A EDUCAÇÃO CONTINUADA: Formação do professor

A EDUCAÇÃO CONTINUADA: Formação do professor

Me. Ana Maria Pertile1

Me. Fernanda Pereira Moraes de Araújo2

Me. Renato Ferreira de Araújo3

Me. Sandra Regina Pastre Pereira4

Dra. Rosangela Lemos da Silva5

RESUMO: Este trabalho traça um paralelo entre a dicotomia da escola tradicional e a escola pós-moderna, abordando sua evolução ao longo da história. Apresenta alguns aspectos da escola tradicional e da emergente educação proposta pela Escola pós-moderna, configurando-se como um embate histórico. Procura também demonstrar os paradigmas existentes para o professor de formação tradicionalista em atuação, hoje, na escola pós-moderna a partir da análise dos aspectos filosóficos e epistemológicos de cada escola. Conclui o trabalho que as instituições formadoras dos profissionais de educação também devem passar por um processo de reestruturação tendo em vista a nova realidade dos seus alunos.

Palavras-chave: Formação continuada. Prática pedagógica. Paradigma tradicional. Paradigma pós-moderno.

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1Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo, RS. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

2Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidad Iberoamericana. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

3Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidad Iberoamericana. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

4Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Privada de Guairá. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

5Posdoutoranda em Direito pela Universidad Del Museo Social Argentino-UMSA, Buenos Aires. Dra. Em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción, PY.

1 INTRODUÇÃO

No processo de formação do professor, independente da área de atuação, faz-se necessário uma preocupação e compromisso com uma tomada de decisão em relação ao norte teórico pelo qual este vai se orientar. Nesta perspectiva, nós, educadores, nos deparamos como uma situação muitas vezes delicada e confusa, pois, fomos “formados” dentro do contexto do paradigma tradicional, paradigma este que estabelece uma separação entre sujeito e objeto no processo de produção do conhecimento.

Porém, na atualidade, ao nos depararmos com as práticas de nosso trabalho docente, percebemos que houve um avanço neste sentido e a educação hoje propõe uma formação e atuação a partir da complexidade, ou seja, do paradigma pós-moderno. Sendo assim, como trabalhar a formação do professor dentro deste processo de transição do paradigma tradicional para o paradigma pós-moderno?

Partindo desta problemática, objetivamos analisar os desafios da Educação diante desta fase atual, conhecida como pós-moderna. Assim, faz-se necessário desenvolver uma análise e um conhecimento a respeito dos paradigmas ora em questão. Para que esta análise se desenvolva, precisamos compreender os pressupostos teóricos e metodológicos norteadores de ambos os paradigmas, nos posicionando em relação a eles.

Com base nos objetivos propostos, observamos, no dia a dia da prática pedagógica, que os professores, muitas vezes, não têm clareza das teorias que fundamentam o seu trabalho. Portanto, este profissional precisa conhecer tais teorias. De posse deste conhecimento, as diferenças ficam claras, dando-lhe condições de posicionar-se no sentido de optar por uma atuação compromissada com a qualidade que a educação exige, sem desviar-se da finalidade objetiva e subjetiva do processo.

Uma vez tomada a postura, o profissional terá condições de rever sua atuação enquanto educador, promovendo, ao mesmo tempo, uma educação científica e afetiva. Para atender aos objetivos propostos no presente artigo, realizaremos uma pesquisa qualitativa, realizada por meio de fontes bibliográficas e telematizadas, fazendo inicialmente uma abordagem em torno do que sejam e quais os suportes teóricos basilares do paradigma tradicional e do paradigma pós-moderno.

Em seguida, abordaremos como esses paradigmas interferem na formação e atuação do professor. Finalmente, apresentamos as conclusões que a pesquisa nos proporcionou. Para tanto, a fim de fundamentar o paradigma tradicional no presente artigo, utilizaremos o pensamento de Dermeval Saviani e Seymour Papert. Já para apresentar o alicerce do paradigma pós-moderno neste texto, recorreremos aos pensadores Thomas Kuhn, Maria Cândida Moraes, Edgar Morin, Paul Watzlawick, e Cristiane Danielle Wengzynski.

2 FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR

Conhecer o professor, sua formação básica e como esta se constrói ao longo da sua carreira profissional é de fundamental importância para que se possa compreender as práticas pedagógicas dentro das escolas. A formação continuada dos professores é um assunto complexo e abrangente, porém, é fator preponderante ao desenvolvimento da escola, do ensino, do currículo e da docência. Neste contexto, várias pesquisas têm sido desenvolvidas nas últimas décadas.

Na Era atual percebe-se que a evolução da escola tradicional para a moderna seguem os estágios da evolução humana, começando na educação primitiva, informalmente, até o modelo atual ministrado ainda na escola formal. Do ponto de vista do contexto histórico, surgem questionamentos a respeito da atuação dessa instituição.

A Escola Tradicional se alicerça na Grécia antiga. A palavra escola vem do grego scholé, significando “lazer, tempo livre”. Este termo era utilizado para nomear os órgãos de ensino tendo em vista que a tradição greco-romana não valorizava o trabalho manual, tampouco a formação profissional. O interesse da escola da época era formar o homem das classes dirigentes. O professor ensinava de acordo com a exigência, preparando o indivíduo para ocupar altos cargos e para ser um futuro governante. Cabe destacar que o mestre filósofo era o responsável pela educação dos seus discípulos, em geral cinco, e geralmente ensinava política, artes, aritmética e filosofia.

O ensino tradicional fundamentou-se na filosofia da essência, de Rousseau, passando à pedagogia da essência de Platão (Saviani, 1991). Essa pedagogia se pauta na igualdade substancial entre os homens: trata da liberdade e da igualdade como base de estruturação da pedagogia da essência respaldando o surgimento dos sistemas nacionais de ensino, que, por sua vez, foram fundamentais para proporcionar a escolarização para todos.

O ensino tradicional, que ainda é o predominante até hoje nas escolas, se estabeleceu após a revolução industrial se implantando no sistema nacional de ensino. Este ensino, no momento em que foi consolidado o poder burguês, fez com que a escola passasse a ser salvadora da sociedade como um instrumento de consolidação da ordem democrática (Saviani, 1991).

Assim a escola tradicional veio se perpetuando no espaço e no tempo até o século XX, com relação professor-aluno de forma vertical, com hierarquia e submissão. Até então o professor assumia o papel do detentor do poder e os alunos eram considerados um grupo homogêneo sem diferenças sociais, culturais e financeiras.

No que tange ao pós-modernismo, faz-se necessário, a priori, a contextualização histórica do pós-modernismo e alguns precursores deste movimento. Pois, as noções estabelecidas com a pós-modernidade e o entendimento do pós-modernismo como movimento é uma missão complexa. Não se trata de um movimento uníssono, formado por ideias universalmente adotadas por quem se declara pós-modernistas. Na verdade, o desacordo e a fragmentação de entendimentos são atributos do movimento. Assim, o uso de qualquer esclarecimento mais concreto deste movimento acaba por trazer um receio de impedir uma real compreensão do assunto.

Um dos principais conceitos do pós-modernismo é a crítica à concepção de unidade individualizada, indicando, assim, a existência de relações interdependentes dos sujeitos compreendidos em certa conjuntura. A partir dessa noção, tem-se que todo desenvolvimento, em qualquer área, passa a ser um processo ativo que é consequência da argumentação entre indivíduos e não de uma instituição cujas regras deveriam ser absorvidas pelos indivíduos. Dessa forma, o que ocorre é a criação da realidade e não a observação dela (Watzlavick,1984).

Ainda nesse sentido, teóricos da pós-modernidade rechaçam a ideia de que exista uma verdade universal e imutável, bem como a de que a realidade seja achada em estruturas veladas, conforme as concepções de estruturalismo. Por essa alusão ao estruturalismo, identifica-se essas novas propostas que visam superar o estruturalismo como pós-modernidade, ou pós-estruturalismo (Morin, 1995).

É importante destacar que das atuais escolas de pensamento que se englobam na pós-modernidade, evidencia-se o construtivismo. Este apresenta a noção de que o conhecimento é construído pelo pupilo e não trazido pelo mestre. Neste sentido, a obtenção de conhecimento se dá quando o aluno está envolvido na construção de algo externo, de forma que possa ser dividido ou apresentado a outros. Esse entendimento leva ao modelo de um ciclo: a interiorização do externo e a externalização do interno (Papert, 1990).

Diante disso, fica mais facilmente compreendida a noção de “rede” apresentada por Morin (1995) existente no atual paradigma pós-moderno. Nesse entendimento o professor, enquanto profissional atuante no sistema educacional, é um participante do processo de desenvolvimento do aluno. Este, por sua vez, não se desenvolve sozinho, mas por meio das trocas infinitamente realizadas com o meio onde vive, sendo o professor um orientador, além de outro aprendiz sob outro ponto de vista.

O educador tem uma importância enquanto mediador do processo educacional. Assim, ele precisa ter clara a sua prática e o seu papel no contexto escolar. Pois, as práticas conservadoras são provenientes de uma visão reducionista, construída a partir da formação dentro do contexto do paradigma tradicional.

Este paradigma ainda se encontra enraizado na prática pedagógica difundindo um processo de aprendizagem conservador no qual há uma reprodução fidedigna do conhecimento. Como afirma Moraes, “O pensamento cartesiano, exposto no Discurso do Método, afirmava que era preciso decompor uma questão em outras mais fáceis até chegar a um grau de simplicidade suficiente para que a resposta ficasse evidente”.

Dentro desta abordagem tradicional conservadora, acaba ocorrendo o que chamamos de adestramento intelectual, ou seja, ocorre apenas a transmissão estanque de conhecimentos sem levar em conta que somos seres evolutivos e que precisamos nos desenvolver por completo nos sentidos cognitivo e afetivo.

Por conta dessa necessidade de desenvolvimento afetivo e cognitivo, desenvolveu-se, no final do séc. XX e início do séc. XXI, uma nova abordagem paradigmática, voltado também para a educação, onde o ser é visto por inteiro, como parte integrante da teia da vida. Fato este, que colocou em xeque a atuação do professor, formado no Paradigma Tradicional, tendo que atuar no Paradigma Pós-moderno.

Sendo assim, este profissional passou a sentir a necessidade de conhecer os elementos que norteiam o novo paradigma para, a partir daí, começar a estruturar mudanças em sua prática docente. Dessa forma, a partir do pensamento de MORAES: “A visão de totalidade do paradigma emergente, o pensamento sistêmico aplicado à educação nos impõe a tarefa de substituir a compartimentação pela integração, a desarticulação pela articulação, a descontinuidade pela continuidade, tanto na parte teórica como na práxis da educação”. Portanto, a partir deste conhecimento, é imprescindível uma revisão da postura de educador e uma tomada de decisão quanto ao desenvolvimento da prática pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação continuada é de fundamental importância para o processo de desenvolvimento das práticas pedagógicas do professor. É esta formação que irá proporcionar a superação das contradições e esclarecer a função que este deve desempenhar enquanto educador.

No que tange à compreensão dos paradigmas expostos, para que este profissional tenha condições de tomar posição, ele precisa aprofundar seus conhecimentos em torno desta temática com leituras aprofundadas dos teóricos que sustentam ambos os paradigmas e estabelecer relações destes com a prática pedagógica, rompendo, assim, com o paradigma tradicional e desenvolvendo um novo modelo de educação baseado numa concepção sistêmica e complexa. Onde a teoria e a prática devem estar em consonância, fazendo o professor pensar e repensar constantemente na sua prática pedagógica.

A formação continuada só fará sentido se conseguir provocar mudança na postura do professor. Para isso, é necessário que as instituições formadoras destes profissionais também passem por um processo de reestruturação e revisão de suas práticas. Assim, torna-se necessário formar um novo professor que tenha compromisso com a sociedade, a realidade de seus alunos, formando uma reflexão crítica de seu cotidiano.

REFERÊNCIAS

KUHN, T. The structure of scientific revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1970.

MORAES, Maria Cândida. O paradigma Educacional Emergente. 12 ed. Campinas. Papirus, 1996.

_____________________. O paradigma Educacional Emergente. http://www.ub.edu/sentipensar/pdf/candida/paradigma_emergente.pdf. Acessado em 16/01/2017, às 16h 03 min..

MORIN, E. A noção de sujeito. Em Schnitman, D. F. (Org.). Nuevos paradigmas, cultura y subjetividad. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1995.

PAPERT, S. Introduction: Constructionist learning. Idit Harel (ed.). Cambridge, MA: MIT Media Laboratory, 1990.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.

WATZLAWICK, P. The invented reality: How do we know that we believe we know? Contributions to constructivism. NY: W W Norton & Co. Inc., 1984.

WENGZYNSKI, Cristiane Danielle; TOZETTO, Suzana S. A formação continuada face as suas contribuições para a docência. UEPG, 2012.

http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2012/Historia_da_Educacao/Trabalho/04_33_43_1259-6385-1-PB.pdf. Acesso em 16/01/2017 às 14:20h.

http://www.webartigos.com/artigos/do-professor-tradicional-ao-educador-atual-desempenho-compromisso-e-qualificacao/23184/. Acesso em 16/01/2017 às 16:40h.