MASSA DE MOER CEREBRO

Há tempo se fala de um Sistema Socioeducativo que não recupera nenhum adolescente em conflito com a realidade posta. Mas, em contrapartida, esta realidade social lhe é adversa e hostil. Então, como gozar do pleno exercício da cidadania? E como desenvolver todas suas potencialidades? Por isso, este artigo tem apenas o escopo de fazer a reflexão acerca do embrutecimento social em relação as juventudes e a socioeducação.

Historicamente, sabemos que a ausência do Estado seja o maior vilão para as juventudes periféricas. Pois, a ausência de políticas públicas despontencializa, exponencialmente, a promoção social e, consequentemente, marginalizam principalmente os jovens pobres, pretos e favelizados. Impossibilitando, democraticamente, a acessibilidade, a continuidade/permanência e o consumo dos bens socioculturais propostos pelo Estado.

È público e notório que a instituição família, também, foi desmantelada pela falta de vontade política do Estado... Nesse contexto, a falta de equipamentos sociais voltados pra Educação, Cultura e Lazer nos territórios periféricos proporcionaram um legado de ociosidade e um campo fértil para o “poder paralelo”.

Penso que parte significativa dos jovens que cumprem MSE , principalmente, em “meio-aberto”, em unidades de socioeducação do Rio de Janeiro, deseja “sair pela porta da frente”. E, eu convivo com essa afirmativa há um bom tempo... Mas, infelizmente, é recorrente o descompromisso sociopolítico do Estado: falta roupa de cama e pessoal, falta de material esportivo, as instalações arquitetônicas são inadequadas/incompatíveis ao desenvolvimento da “proteção integral” e boa parte dos profissionais avessos/alheios ao sistema socioeducativo. Então, como orientar/tutelar jovens autores de ato infracional?

Mesmo, neste contexto ingrato, muitos dos jovens apreendidos desejam a liberdade e uma vida digna. Penso, por isso, que é a sociedade que se encontra na contramão e/ou em conflito com esses jovens. Esse quadro permite as ações de violência dentro e fora das unidades socioeducativas.

Após duas décadas, compreende-se o legado tenebroso deixado pela desassistência sociopolítico: jovens enfronhados na primeira fileira do tráfico de drogas. Quase todos “buchas-de-canhão”! Na verdade apenas “buchas”. Pois, historicamente, o cárcere tem cor!

Hoje, os jovens autores de ato infracional são o produto de um processo “moedor de desejos”, que a despeito dos que afirmam que eles não têm nenhum “projeto de vida”... Afirmo: - Tem sim! A ascensão na carreira criminosa.

Por isso, atender, compreender e transformar essas relações de classes sociais e históricas não é pra nenhum “forasteiro”. Como dizem: “o bagulho tá doido!” e, por isso, urge – cada vez mais - o olhar: “há que ser duro, mas sem perder a ternura”. Repensar, permanentemente, o atendimento socioeducativo é a possibilidade de diminuição da violência, principalmente, dentro das unidades de socioeducação.

As “desobrigações politico-socioculturais do Estado” é um fato recorrente nas relações de classe, que hegemoniza no Poder uma determinada classe. Tornando secular a escravização das oportunidades sociais. E, consequentemente, põe antolhos nos jovens autores de ato infracional. Tornando-os reféns do “poder paralelo”.

Esse artigo faz alusão às últimas ocorrências em unidades socioeducativas e traz para reflexão as incompletudes institucionais, a nova concepção de Família, a possibilidade de releitura do ECA/SINASE e – em minha concepção - a certeza que não será com a proposição de redução da idade penal que reverteremos às questões em tela.

GuimarãesCampos
Enviado por GuimarãesCampos em 18/01/2017
Reeditado em 16/10/2017
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