EDUCAÇÃO CONTINUADA: Uma via de mão única?

Me.Jefferson Antonio do Prado1

Me.Maria Elizabete Pereira dos Santos2

Me.Maria José Alacrino3

Dra.Rosângela Lemos da Silva4

RESUMO: Este artigo tem como objetivo descrever sobre a formação continuada do profissional da área de educação, seus anseios e necessidades, indo ao encontro da engrenagem institucional de uma via de mão única, considerando assim os processos que envolvem o docente, o discente e a instituição, enquanto agentes nessa construção. Partiu da metodologia qualitativa, por meio de levantamento bibliográfico visando compreender os anseios docentes, discentes e institucional. Construiu-se o embasamento teórico a partir de autores como, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Marques, Garcia, dentre outros. Essa abordagem direcionou a questionamentos referente a épistemes sobre a educação continuada.

Palavras-chave: Discente. Docente. Formação continuada. Instituição escolar.

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1 Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista-UNESP. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

2 Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

3 Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Vale do Paraíba-UNIVAP. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

4 Dra. em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción. Pós-doutora em Direito pela Universidad Social del Museo Argentino-UNSA, Buenos Aires, Argentina. Orientadora e Profa. da disciplina Educação Continuada e Educação Docente.

1 INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo com suas novas tecnologias e processo de globalização, exige dos profissionais de qualquer área a necessidade de atualização, no sentido de desenvolver as suas ações de forma articulada com o seu tempo. Especificamente no caso dos professores, a educação não comporta mais uma visão tradicional ou tecnicista do conhecimento. Atualmente, dada a grande complexidade e velocidade com que as coisas acontecem, o processo de reflexão-ação-reflexão torna-se vital para entender os processos formativos. Deste modo, acredita-se que a aquisição de novos conhecimentos na sua área de atuação tem como propósito o atendimento das demandas sociais.

Diante desse contexto, surge a educação continuada, objetivando um repensar da prática pedagógica e profissional e suas contribuições ao processo de ensino e aprendizagem, bem como nos processos formativos dos docentes.

Entretanto, é importante refletir com propriedade para quem está voltada tal formação: para as necessidades do docente ou para atender aos interesses institucionais? Além do mais, qual o custo financeiro e emocional dessa formação para o professor? Este tipo de educação advém das verdadeiras necessidades docentes ou são imposicionadas por outros interesses em relação aos desejos daqueles que presenciam o processo educativo em sala de aula?

Em relação ao objetivo propõe-se identificar que experiência comprova a veracidade dos programas de orientação e treinamento de habilidades, para cargos iniciais ou de carreira, na melhoria da qualidade de ensino, ou seja, na educação continuada; verificar, quais metodologias educativas são utilizadas; quais as ideais ou mais indicadas; em que situações; se a experiência acumulada está registrada na formação continuada docente, bem como se há plena consciência, tal como aponta Teixeira (1977), dessa experiência.

Essas e muitas outras indagações poderiam e deveriam ser feitas para melhor colocação do problema da educação continuada em relação aos docentes e suas mais diversas áreas.

O procedimento metodológico utilizado nesse artigo foi o levantamento bibliográfico,dedutivo por meios de artigos, livros et al, para compreender a posição do educador frente a seus anseios e aos anseios do discente e da instituição escolar. A abordagem utilizada foi a qualitativa, com a pretensão de mostrar conhecimentos específicos no campo da educação pedagógica.

A civilização ocidental, de acordo com pensamentos do ilustre educador brasileiro Anísio Teixeira, em sua obra “Educação e o Mundo Moderno” (1977) possui como elemento próprio o hábito de vislumbrar os problemas sob a ótica da racionalidade, a fim de que toda a vida humana esteja atrelada a um sistema coerente, cujas ideias abarquem não só o conhecimento, mas também a sociedade e o mundo.

Em relação à educação, Teixeira (1977) afirma que a escola tem que dar espaço a todos, ouvindo-os e servindo-os. Tal operação não se trata da simples expansão das escolas, mas sim o seu aperfeiçoamento.

De acordo com Marques (1996) a reelaboração curricular dos programas de formação dos educadores sugere uma prática social de maior complexidade, que inter-relacione os apontamentos epistêmicos, metodológicos e culturais da educação e as reorganiza em seu locus de atuação, atreladas às considerações de pesquisa, da atividade docente eminentemente relacional, das ações nos espaços do desenvolvimento social e do exercício das competências e das habilidades profissionais. O currículo, dessa maneira, assume o protagonista de articulador dinâmico no contexto das relações sociais, no fazer educativo, assim como da atividade profissional do educador.

Um outro conceito que tem sido lembrado na formação de professores é o da reflexão. Segundo Garcia (1992) a reflexão é, hoje, o conceito mais atualizado por investigadores, formadores de professores e educadores diversos, para referenciarem as novas tendências da formação docente.

Como ele afirma, o conceito de reflexão tem sido utilizado em diversos contextos e com diferentes abordagens. Dentre eles, o de indagação, que está inter-relacionado com a ideia de investigação-ação, que possibilita aos professores questionar e analisar suas práticas, não só observando, mas também identificando e refletindo sobre estratégias para aperfeiçoá-las.

Schõn (1992), também, tem sido citado como um dos autores de destaque na propagação do conceito de reflexão, contribuindo para caracterizar o ensino como uma profissão, cuja prática propicia o desenvolvimento de um conhecimento específico ligado à ação, um conhecimento particular, pessoal, não sistematizado e que só pode ser adquirido na prática. Tal capacidade ou conhecimento prático foi analisado profundamente por ele, como um diálogo reflexivo, isto é, uma reflexão na ação e pela ação.

Enfim, ao atuar refletindo na sua ação, o profissional da educação estará construindo sua competência e habilidade profissional de uma forma única, à medida que absorve o conhecimento como instrumento fornecido pelas ciências. Segundo Freire,

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (p,14 2002).

Um outro ponto importante na formação dos educadores diz respeito ao processo de investigação-ação. Benavente (1985) nos convida a compreender os processos, isto é, não apenas constá-lo, mas atuar na realidade com projetos que sinalizem e viabilizem caminhos e vias de diversificação das práticas, de tal maneira que os atores educacionais neles envolvidos, como protagonista do saber e do conhecer e do fazer se apropriem dos instrumentos para a transformação da realidade escolar.

Dessa maneira, a investigação-ação deve dar conta da complexidade de um projeto, articulando diversas questões e problemas, intervindo em situações reais, construindo mudanças não só das práticas e atividades pedagógicas, mas também de atitudes, comportamentos e relações entre seus atores educacionais, tornando-os coadjuvantes e protagonistas do saber e do fazer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em pleno século XXI, ao dispormos de uma sociedade que se compreende global e inserida no contexto da ciência da informática e das novas tecnologias, podemos levar em consideração o papel do docente, da instituição escolar e em contrapartida a necessidade do discente e do contexto social atual.

A busca por excelência no âmbito profissionalizante coloca o profissional da educação como ator principal e atuante das transformações sociais. Partindo do princípio que enquanto coadjuvante o discente é o principal envolvido nesse processo e o sistema deveria interagir na proporção da realidade da sala de aula, mas, todavia, com um olhar crítico pelo desejo do docente.

Nessa perspectiva, a formação destes profissionais é uma atividade que se volta para universos pedagógicos vigentes por meio de atividades de investigação voltadas para a realidade social e suas articulações com a escola. Para isso é preciso que se desenvolva no terreno concreto de ação destes educadores, atividades de ação e reflexão, por meio de idas e vindas entre a intervenção e a reflexão, propiciando assim novas vias de ação, onde estes profissionais sejam produtores de saber, e não apenas receptores passivos e reprodutores ativos desse saber.

A abordagem que traz coerência aos questionamentos enfoca a qualidade do ensino e da aprendizagem, mas a realidade da sala de aula traz em seu bojo os questionamentos do educador e suas angustias que muitas vezes se vê sujeitado e preso ao sistema institucional; e fora da mão que viabiliza a construção de si enquanto sujeito docente.

Após a eloquência verificam-se que a formação da educação continuada, na dialética conforme autores, visa levar inúmeros épistemes no âmbito da cientificidade para educadores, educandos e pesquisadores em prol da pragmática pedagógica.

REFERÊNCIAS

BENAVENTE, Ana. Escola, professores e processos de mudanças. Livros Horizonte. Bibliografia do Educador, p. 126. Lisboa.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 25ª Ed, Paz e Terra, 2012.

GARCIA, Carlos Marcelo. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na investigação sobre o pensamento do professor. In: NÓVOA, A. (coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 51 -76. 1992.

MARQUES, M. O. Educação / interlocução, aprendizagem / reconstrução de saberes. Ijuí, RS: Unijuí, 1996.

SCHÖN, Donald A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 77-91, 1992.

TEIXEIRA, Anísio. Educação e o mundo moderno. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

Jefferson Antonio do Prado, Maria Elizabete Pereira dos Santos, Maria José Alacrino e Rosângela Lemos da Silva
Enviado por Jefferson Antonio do Prado em 17/01/2017
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