Falso brilhante (publicado originalmente em 10/12/2016)

A dúvida a não ser dirimida é: Elis Regina (1945-1982) é a maior e melhor cantora do país no século 20. A cinebiografia da artista era aguardada por fãs (eu me incluo), pois a biografia ‘Nada Será Como Antes’, escrita por Júlio Maria e lançada ano retrasado, fez sucesso. Teve a peça de teatro e então veio o longa, estreado em fins de novembro.

É indiscutível a correta escolha da atriz Andréia Horta para a protagonista. Viva, graciosa e metamorfoseada na cantora, ela faz valer cada centavo do ingresso. E apenas ela. Dirigido pelo estreante Hugo Prata, a fita é insossa e peca demais pela falta de emoção. A tradução: empolga pouquíssimo.

O script percorre os quase 18 anos de carreira da cantora, que chega ao Rio de Janeiro justamente em 1º de abril de 1964 – dia da instalação do regime militar –, vinda de Porto Alegre. Ao lado do pai, Romeu (Zé Carlos Machado, de ‘Sessão de Terapia’), enfrenta ajustes da gravadora e precisa se expor para fazer fama. Conhece Miele (Lúcio Mauro Filho) e Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado) e estoura no Festival de Música da TV Excelsior em 1965.

Elis era conhecida por ser estourada, impetuosa e libidinosa, e estas facetas são apresentadas ao público. O tom eleito para isto foi o errado. Bastante didático, ‘Elis’ mastiga informações ao espectador e se torna mecânico ao querer anunciar nas cenas o que ocorre no momento. É tragédia do mau costume.

Como atualmente ninguém lê jornal, livro ou assiste a documentários, a varinha mágica nos é apontada com todo o tipo de explanação possível. Sobre o elenco, chega a ser caricato observar Mauro Filho como o bon vivant Luís Carlos Miele. O humorista é aprendiz de ator e está longe de aspirar este tipo de personagem. O restante, cumpre bem a tarefa, com destaque, além da obviedade Horta, pra Machado e Caco Ciocler, na pele de César Mariano, segundo marido de Elis.

Os números musicais, como não poderiam deixar de ser, comovem sem lágrimas, digamos assim. A fita é um falso brilhante, para lembrar o disco de 1976, que possuía ícones do cancioneiro como ‘Fascinação’, ‘Como Nossos Pais’ e ‘Tatuagem’. Aliás, é de praxe, parece, frustrar fãs em cinebiografias. Vide ‘Tim Maia’, ‘Gonzaga de Pai pra Filho’, ‘Cazuza’.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 14/12/2016
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