Brasil: O Romantismo musical dos anos 70

Estou chegando ao fim do relato feito a grosso modo da retrospectiva da nossa música popular, desde o início do século XX. Aportemos na década de 1970 e veremos que o teor da modinha da época do império foi praticamente desenterrada das cinzas e renasceu, pois assim quis e quer o gosto popular. Mesmo depois do grande reinado do samba e suas múltiplas variações até chegar a ser Bossa Nova; mesmo ainda depois das influências do Rock importado; e das tentativas dos tropicalistas de criarem algo bem nosso, embora misturado às outras tendências; e mesmo depois da indefinível MPB, o que ouvimos e assistimos no meio popular? Direi sem embaraço: A retumbante e singela canção de Amor, ou Romantismo, que alguns chamavam de Cafona e depois passaram a chamar de Brega. Esta, para tristeza minha, vem sendo tão desfigurada para não dizer nojenta com o passar dos anos que, de lá para cá, até o rótulo quer apresentar cara de novo mesmo se camuflando, mas apenas desonra sua origem. Chamam de “Sofrência” os que cantam em nosso tempo e em nossa língua suas desbragadas e desenfreadas paixões. Lamentável devo dizer, pois até o sentimento estético dos ouvintes está sendo depravado.

No começo dos anos 70, as canções herdeiras de alguns aspectos estéticos da Jovem Guarda e que abordavam temas românticos de forma exagerada, foram as mais apreciadas pelo gosto popular e lideravam as vendagens. Sobre esse aspecto voltarei a falar muitas vezes ainda em outros artigos, para, assim como Paulo Cesar de Araújo, o cara que escreveu a biografia não autorizada do Roberto Carlos, fazer valer e definir cabalmente o que é realmente MÚSICA POPULAR em nosso país. Não quero com isso tirar o mérito de nenhum segmento musical, a cada um o que lhe pertence.

Apesar de não ser a mais POPULAR, a MPB ingressou na década 70 como a de maior prestígio, símbolo de sofisticação e, reconhecida pela CLASSE MÉDIA e por parcela dos intelectuais e artistas engajados, como única estética musical brasileira "não-alienante" e dotada de uma visão progressista com aspectos de "brasilidade", de "autenticidade" e da "tradição" musical nacional. Passando a ser um conjunto de ideias e estilos musicais aglutinados em torno de alguns conceitos, como o popular-nacionalismo, a defesa da justiça social e a valorização de uma etnicidade brasileira, numa tentativa de juntar o moderno e o cosmopolita a aspectos das raízes culturais do Brasil.

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