CONSERVATÓRIA/RJ
ONDE A SERESTA DÁ O TOM


 
Rodovia símbolo para Conservatória

1. INTRODUÇÃO
Se existe um local que todos deveriam conhecer antes de morrer (como diz o livro), este local chama-se Conservatória, um distrito do município de Valença, no estado do Rio de Janeiro. Distante aproximadamente 370 quilômetros de São Paulo, 145 do Rio de Janeiro, 26 de Barra do Piraí e 34 quilômetros do município sede – Valença – o local tem tudo para agradar a todos aqueles que apreciam belezas naturais, artesanatos, boas cachaças, tranquilidade e, aquilo que é o ponto alto do distrito – a boa música de seresta.
               
2. CAMINHOS PARA CONSERVATÓRIA
Fiz a viagem a Conservatória de carro, partindo da cidade de Santos, no litoral paulista, numa distância total de 447 quilômetros. Se sair pela manhã, um bom local para o almoço é no Posto-Restaurante do Clube dos 500, na via Dutra (região de Guaratinguetá), distante 256 quilômetros de Santos e um tempo médio de três horas. Do Clube dos 500 até Conservatória são mais três horas, perfazendo um total de seis horas corridas.
 
De São Paulo
O ideal é seguir pelas rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto até a rodovia Presidente Dutra, já próximo a Taubaté, evitando assim o trecho mais congestionado da Dutra no trecho paulista, que é justamente entre a capital e São José dos Campos. Continuando pela Dutra e próximo a Barra Mansa, já no estado do Rio, utilizar a saída 265 em direção a Volta Redonda e posteriormente pegar a rodovia BR-393, em direção a Três Rios. Esta rodovia é em pista única e, pelo menos até a saída para Conservatória, está em boas condições. Seguir por 47 quilômetros até o acesso a Barra do Piraí, onde começa a RJ-137 – Rodovia Canção do Amor – para Conservatória (asfaltada e em bom estado, com boas curvas para não te deixar dormir). São mais 26 quilômetros.
 
Do Rio de Janeiro
Seguir pela Dutra até o km 236, em Piraí (já após a Serra das Araras) pegando a rodovia para Barra do Piraí, até atingir a BR-393 (são 14 quilômetros). A partir daí é como para quem vem de São Paulo.
 
De Minas Gerais
Utilizar a BR-040 (Rio de Janeiro – Belo Horizonte) até o acesso à BR-393 no município de Três Rios, seguindo em direção à Barra do Piraí. São 84 quilômetros até o acesso à rodovia que leva a Conservatória por mais 26 quilômetros.
 
3. DADOS GEOGRÁFICOS
Localização: Estado do Rio de Janeiro, em um vale da Serra do Rio Bonito
Nome anterior: Santo Antônio do Rio Bonito
DDD: 24
População: 4.100 habitantes (censo de 2010 do IBGE)
Altitude: 535 metros
Área aproximada: 240 km2
Clima: Seco – No inverno é bem frio
 
4. DESCRIÇÃO
Conservatória ferve somente nos finais de semana (noite de sexta, sábado o dia todo e domingo até o final de tarde), quando as ruas do casario colonial são invadidas por turistas e seresteiros que entoam belas canções brasileiras da antiga. Misturam-se pessoas de todas as tribos, numa alegria contagiante, parecendo cenas extraídas de um filme. De segunda a quinta o distrito é uma tranquilidade, quando hotéis e restaurantes geralmente permanecem fechados.
 
 Foto 1 – Réplica de um violão com versos de Guilherme de Brito, falecido em abril de 2006.
 
5. AS SERESTAS
Nas noites de sexta, sábado e em algumas vésperas de feriado, as canções de amor ganham vida nas ruas acanhadas do Centro Histórico. Antigas canções de Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Gilberto Alves, Pixinguinha são relembradas pelos seresteiros de plantão. O encontro dos seresteiros acontece às 20h30, na Travessa Professora Geralda Fonseca – a badalada via dos bares e restaurantes – onde tocam seus primeiros acordes (foto 2).
 
Mas é só às 23h que os músicos saem em cortejo, tocando, cantando e recitando poesias, num espetáculo fascinante e emocionante, de inebriar a nossa alma (foto 3).
 
A música avança pela madrugada adentro sem uma hora específica para terminar. Cada noite é uma noite diferente, mas sempre de arrasar corações, principalmente aqueles apaixonados. E o público vai atrás, sem a preocupação do acordar cedo no dia seguinte.
 
 
 Foto 2 – Esquentando os violões antes da caminhada musical.
 
 Foto 3 – Durante a caminhada dos seresteiros pelas ruas do distrito. Muito frio nesta noite.
 
Aos sábados, das 11h às 13h, a Galeria Vila Antiga recebe grupos de chorinho. No domingo, das 10h às 12h, o ritual da seresta se repete na Travessa Professora Geralda Fonseca com o nome de Solarata (porque é durante o dia). Os eventos só não acontecem quando chove.
 
Na missa dos domingos pela manhã na Igreja Matriz, há a apresentação de grupos de cantores e seresteiros (foto 4). É um evento concorridíssimo e se você chegar em cima da hora, é capaz de nem conseguir entrar na igreja, quanto menos arrumar um local para sentar-se. No momento eu não sei precisar se esse evento acontece todos os domingos do mês ou se é em apenas um em particular. Se estiver interessado, convém informar-se.
 
 
 Foto 4 – Seresteiros e cantores na missa de domingo pela manhã.
 
 6. MUSEUS
Os museus com as histórias e objetos de Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Gilberto Alves e Guilherme de Brito, estão reunidos em um só prédio. Fica na rua Dr. Luís de Almeida Pinto, 44 (Centro Histórico). Funciona sextas e sábados das 10h às 22h e domingos, das 10h às 14h. Diversas vitrines expõem fotos e objetos pessoais desses cantores e compositores. Há um antigo toca-discos mecânico que toca suas músicas, formando a trilha sonora da visita. É muito bonito e vale a visita.
Há ainda o museu dedicado a Vicente Celestino e o acervo surpreende, com objetos relacionados à vida do famoso seresteiro. Entre outras relíquias, repare na roupa usada por ele no filme O Ébrio (de 1946), dirigido por sua mulher Gilda de Abreu, além do vestido de noiva que ela usou no casamento com o músico – ambas as peças estão intactas. Na sala de música há cinco mil discos de vinil, uma coleção especializada em serestas. Nos fundos do museu foi criado um espaço dedicado ao casal de intérpretes Nora Ney e Jorge Goulart. O museu fica na rua Pedro Gomes, 50 (Centro Histórico). Horário: sextas e sábados, o dia inteiro e domingo, das 7h às 14h.
Em frente ao Museu Vicente Celestino fica um dos símbolos da história do lugar: a antiga "Maria Fumaça", da Rede Mineira de Viação, que puxava os vagões de passageiros e também o trem com a produção de café (foto 5). Hoje ela está em frente à antiga Estação Ferroviária de Conservatória, atual rodoviária. A linha ferroviária e a estação, inauguradas por D. Pedro II em 21 de novembro de 1883, foram extintas após a instalação da indústria automobilística no Brasil e da política de construção de rodovias para privilegiar o transporte rodoviário de cargas, nos anos 1960. Por aquela ferrovia, o vilarejo se interligava com o Rio e Minas Gerais, partindo de Barra do Piraí - município do qual Conservatória foi distrito de 1943 a 1948, quando passou a pertencer a Valença - e chegando até Baependi, após Santa Rita do Jacutinga, em Minas Gerais.
 
Foto 5 – Vista da Maria Fumaça localizada em frente ao Museu Vicente Celestino.
 
7. SERRA DA BELEZA E OS OVNI’s
Se o tempo estiver bonito, limpo e com um sol brilhante, vale a pena ir até as terras de Santa Isabel conferir a beleza da Serra da Beleza, que é possível alcançar-se através de uma estrada de terra (foto 6). Há uma tradição conservada pelos locais e turistas sobre a observação de OVNI’s através do mirante da Serra da Beleza. Ainda nos dias de hoje é comum muitas pessoas dirigirem-se ao local em noites limpas e com muitas estrelas, deitar no pranchão de madeira e ficar observando o céu à espera de algum Objeto Voador Não Identificado. Muitos adormecem por lá e só acordam com os primeiros raios do sol. O mirante tem vista espetacular para as montanhas do Vale do Rio Preto (foto 7). Além do bucólico cenário rural, a estrada ainda mostra uma boa surpresa: na subida da serra, a 7 km do centro de Conservatória, está a Ponte dos Arcos (foto 8), construída por escravos no fim do século 19. Após 5 km, o mirante te espera.
Se não quiser colocar o carro nos caminhos de terra, pode contratar os serviços de peruas e Rurais que fazem o percurso. Eu optei por contratar um desses serviços e não me arrependi em momento algum. Um motorista e guia turístico extremamente simpático e conhecedor da região que deu uma verdadeira aula de história. Esses serviços são oferecidos nas próprias ruas do distrito, não havendo um local específico para encontrá-los. A tratativa é feita diretamente com o guia e motorista e pode ficar sossegado: eles não falham.
Ali pela região fica o Túnel Capoeirão, conhecido também como o “túnel que chora”, pois durante todo o tempo as infiltrações de água respingam túnel adentro. Vale a pena conhecer, mas só se você estiver numa perua contratada, pois o caminho é muito ruim e pode danificar seu veículo. A seguir, uma seqüência de fotos relativas a este item.
 
Foto 6 – Estrada para a Serra da Beleza.
 
Foto 7 – Belíssima vista das montanhas, parecendo um tapete verde.
 
 
 Foto 8 – Vista da Ponte dos Arcos, construída pelos escravos.
 
8. HOSPEDAGEM E REFEIÇÕES
Conservatória é muito bem servida de hotéis e pousadas, bem como de restaurantes, tanto para comidinhas como para refeições completas. Mas é sempre bom fazer reservas ou, no mínimo, informar-se sobre vagas, pois o local é muito procurado. Existem acomodações de diversos níveis, tanto dentro da cidade como no seu entorno. Aí estão incluídos aqueles locais com muitas estrelas, bem como aqueles com “muitas cruzes”. Não se deixe levar pela aparência externa, pois engana muito. Quanto às refeições nos restaurantes não se pode dizer que são de primeiríssima qualidade, mas são honestas, com um preço um tanto salgado. Mas quem vai a Conservatória não deve se preocupar com esses detalhes.
 
9 – OUTROS LUGARES
Há ainda outros lugares interessantes para se conhecer, mas vai depender do seu tempo disponível. Exemplos são a Casa D’Arte, que expõe santos barrocos feitos em papel kraft, jornal, arame e cola,  pelo artista paulista Mário Luís Silva – Rua Pedro Gomes, 26 (Centro Histórico). Outro lugar que pode ser conhecido é o Cine Centímetro, cuja fachada é uma réplica reduzida do antigo Cine Metro Tijuca, no Rio de Janeiro (já demolido) – Rua José Ferreira Borges, 205 (Parque Veneza). A Fazenda Florença, da época do ciclo do café e transformada em hotel conserva-se quase intacta. A visita deve ser agendada e o acesso dá-se pela rodovia Canção do Amor, a 4 km de distância do centro de Conservatória (2 km de terra).
 
10 – HISTÓRIAS
Um dos grandes motivadores da tradição da música na cidade é o Museu da Seresta, que tem o maior acervo de músicas de serestas do país - e um dos maiores do mundo -, criado pelos irmãos Joubert de Freitas e José Borges Neto, este falecido em 2002. O museu mantém viva uma página da cultura musical brasileira, reunindo os seresteiros às sextas-feiras e sábados à noite, que de lá saem para cultivar o hábito, raramente quebrado, de cantar pelas ruas da cidade.
Em 1998, Conservatória comemorou 120 anos de serenatas. Conta a história que a tradição nasceu com um romântico professor de música e tocador de violino, Andreas Schmidt, que, em uma noite enluarada no silêncio do vilarejo, atraiu espectadores, e o professor Andreas passou a ter como rotina tocar seu violino na praça, nas noites estreladas. Aos poucos, músicos vindos de outros lugares passaram a acompanhar as serenatas do professor, e essa virou uma característica incorporada ao lugar.
 
11 – COMPRAS
Conservatória tem boas compras a serem feitas, desde artesanato e pequenas recordações até camisetas e afins, passando também pelos doces e pelas boas cachaças produzidas na região, principalmente em Valença. Comprei um litro de uma delas e não me arrependi. Não cito a marca, pois se trata de gosto pessoal, alguém pode comprar e não gostar e acabo passando a ideia de propaganda enganosa.
 
 Foto 9 – O seresteiro, sua viola e seu amor a caminho da seresta.
Note o calçamento da rua.
 
 
12 – FINAL
Chegamos ao final da nossa viagem. Espero que tenham gostado das dicas que, acredito, foram as principais. Como citei logo no começo deste texto, se você gosta de música de qualidade, tranquilidade e sossego, além de belezas naturais, Conservatória é um destino obrigatório. Não espere mais: faça as malas e boa viagem.
 
 
13 - NOTAS
1) Todas as fotos deste texto são de Arnaldo Agria Huss.
2) A viagem foi feita em maio de 2009, portanto algumas informações podem estar ligeiramente alteradas, principalmente o horário de funcionamento dos museus.
 
 
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