Você sabe o que sente uma pessoa Borderline?
Você sabe o que sente uma pessoa Borderline?
(Borderline Personality Disorders)
Venha comigo. Afaste tudo que você já tem como aprendizagem de vida. Nada irá te ajudar nesta viagem. O que irá te sobrar é apenas o que você tem de mais verdadeiro. Sim, somente o amor pela pessoa te permitirá prosseguir nesta dolorosa caminhada.
Hoje a pessoa estará em frangalhos, estará sofrendo de maneira dilaceradora. O motivo poderá ser uma frustração aparentemente simples. Mas o fato é que ela estará sofrendo de uma maneira incompreensível para quem observar apenas pelo lado racional.
Em outros instantes você sentirá que não tem mais como segurar esta pessoa ao seu lado. Ela estará envolvida com pensamentos suicidas. Ela pensa em se matar. Pensa em se cortar, pensa em se ferir, pensa em sangrar. Tem a morte como ideia fixa. Mas não a morte natural. Ela pensa em sofrimento. Ela pensa em cortar pulsos, cortar a jugular. Ela pensa em se cortar em picadinhos.
Por outras vezes irá te revelar que quer jogar-se de viaduto, quer receber um tiro de um traficante , receber uma bala perdida. Ela sonha com todos estes pesadelos. Está muito além da imaginação de uma pessoa comum. O importante é sofrer, é fazer-se sofrer.
Você acha este texto forte? Não, não é forte. A pessoa sofre de verdade, quer ser castigada, quer morrer, mas quer morrer sofrendo. Quer testemunhas para sua morte.
É recorrente a ideação suicida. Os demais moradores da casa devem sempre compreender as suas necessidades e o sofrimento decorrente, incessante. Sim, quer se matar e tentará diversas vezes. Todas as facas da casa, todos os objetos cortantes, tudo deve ser recolhido. Até as canetas mais comuns representam riscos. Esses objetos representam uma forte atração, algo inimaginável para os que estão ao redor. É comum ver o paciente olhando para o pulso como se desejasse ver o sangue jorrar.
Também da mesma forma os detergentes, os venenos, os produtos de limpeza devem ser afastados. Deve ocorrer grande vigilância na parte da cozinha. O fogão deverá ser vigiado já que não pode ser abolido da casa. O paciente é capaz de colocar as mãos diretamente sobre as chamas.
Bebidas, álcool, fósforos, absolutamente nada disto deve existir.
Mesmo quando nada disto está ao alcance o paciente apresenta elevado grau de autoagressividade. Em determinados momentos ele começa a esmurrar paredes, cabeceiras de cama, portas. Talvez a parte mais comovente é quando se decide pelo auto espancamento. Bate no próprio rosto por diversas vezes e com tanta força que chega a estremecer o coração de quem assiste.
Não é histeria. Não é o caso de fazer a pessoa parar com um tapa. Não. Aquela dor é mais forte e mais aguda. É uma dor tão forte, tão desesperadora, que paralisa quem assiste a crise.
O Borderline é extremamente frágil, tem enorme dependência da opinião alheia. Tenta agradar as pessoas. Tenta seduzir outras; um dia ama demais aquela pessoa, em outros momentos já não ama tanto. Os amores mais complexos serão sempre os mais desejados. Quer a todos, quer o passado integralmente. Quer???
Não. O importante é fazer prevalecer a sua vontade. O importante é preencher o buraco que fica na alma. Tem amor pelas pessoas? Tem sim. Mas como um pendulo irá variar.
A instabilidade é tão forte, é tão grande, que estará sempre surpreendendo. Em todo o processo, são as pessoas que estão na base as que mais sofrerão. Todas serão maltratadas. Absolutamente todas. Elas serão as eternas culpadas pela tristeza, pela situação alcançada. O paciente não tem culpa.
Muita gente nem sabe da existência da patologia. O diagnóstico é dificílimo. Pode ser dado como depressão profunda, pode ser confundido com bipolaridade. Os altos e baixos são de estremecer.Os cuidadores podem desabar diante de situações extremas.
Se existe cura? Digo que não. Existe controle após diagnóstico adequado. Existe acompanhamento psiquiátrico, emocional e familiar. Encontrar equilíbrio para realizar tudo isto é que é tarefa difícil, complicada e que exige amor.
É muito mais fácil para a sociedade aceitar um diagnóstico neurológico do que psiquiátrico. Para as famílias é quase impraticável entender que o filho que apresenta desejos suicidas permanentes e que viva em constante agressividade possa estar apresentando um quadro psiquiátrico. Fica até menos complexo dizer que a pessoa é delinquente e que é usuário de drogas.
Esta talvez seja a pior parte de tudo. Fazer com que a sociedade compreenda e aceite o Borderline . Muito tempo se perde para descobrir as reações de um adolescente e de um jovem. Pensa-se em tudo e principalmente na influencia dos amigos e no uso de drogas. Pensa-se também em religião e chega-se a admitir que o individuo esteja de fato possuído. E neste aspecto perde-se grande tempo.
A família deve ter consciência do drama. A família terá uma rotina diferente. Sim, sempre haverá muito sofrimento. Mas vale ir a luta por alguém tão absolutamente frágil, tão incapaz de viver uma vida comum.
Há uma dor de viver tão forte que afeta a todos. É uma dor sem disfarces.
Vera Mattos