Seria a estabilidade do servidor?

A notícia sobre o projeto de lei que estabelece avaliações anuais do desempenho do servidor, podendo com isto demitir nos casos de não correspondência aos critérios eficiência e compromisso, pouco resolverá o problema das demoras e ineficiência da mesma para a população.

Isto por que embora tenha grande apelo demagógico a ideia de que se o servidor não pode ser demitido logo não trabalha, a realidade vai muito além disto.

A demora nos serviços e atendimentos se deve ao próprio fato da coisa pública. Diferente de uma empresa privada, que pode fazer tudo o que a lei não proíbe ou estabelece formas adequadas, um órgão público ou empresa pública não pode fazer nada que a lei não estipule. E por se tratar de coisa pública, a liberdade de se fazer e executar é extremamente limitada pelas leis - incomparavelmente mais do que o que sofre uma empresa privada.

Todos os atos, dos administradores ao servidores assistentes precisam ser registrados e ocorrem dentro de inúmeras normas. E estas derivam de inúmeras leis estabelecendo responsabilidades tanto penais quanto civis aos que as descumprem.

Não é possível comprar uma agulha, sem que se consulte os padrões estabelecidos, normas internas, observações da vigilância sanitária, a autorização de alguma chefia responsável por compras e outra pelo orçamento e por aí vai.

Não nego que muitos utilizam a estabilidade do serviço público para trabalhar pouco, mas não são todos. A pouca eficiência se deve também a coisa pública ser relutante e desestimulante a inovação. O que significa isto? Que qualquer mudança em processos, mesmo que melhorem o serviço, dependem de regulamentação e a chefia superior precisa se certificar que nenhuma das regras serão afetadas ou que algo sairá do controle.

Mesmo que se avalie o servidor de ano em ano e este tenha a possibilidade de ser demitido, o serviço continuará moroso e complexo. Por que a natureza burocrática do serviço público permaneceu. Este servidor não tem como inovar, ser criativo, agilizar serviços, por que tudo que ele faz já é prescrito e ele é administrativamente responsabilizado se falhar em qualquer procedimento.

A máquina pública é voltada pra ela mesma. Um servidor ele tem uma função determinada e não pode fazer o trabalho do outro. Ele depende de uma autorização de um colega, de um despacho de outro e assinatura da chefia direta ou indireta de alguma coisa. Tudo isto para que a administração pública faça exatamente o que as leis mandam.

Então, não sejamos idiotas ao pensar que serviço público se diferencia do privado só pelo fato de poder ou não demitir o servidor.

É preciso considerar que a comissão organizada para este fim será composta por quem? Seriam os chefes comissionados mais preocupados com atendimento eficiente ou em não descumprir uma norma que causará para aquele político que o indicou prejuízos?

Trabalhei quase 1 ano como servidor municipal administrativo a burocracia para se fazer qualquer coisa era uma trabalho a parte do que tínhamos que fazer de atendimento ao público. Dar um declaração era algo mais que assinar um papel, exigia toda uma conferência, certificação, etc.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 10/10/2017
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