Isto é música?

Faz algum tempo, vi num programa de TV um apresentador entrevistando a “cantora” da música “metralhadora” (creio ser este o nome, se é que podemos considerá-la uma música).

Os dois tentavam explicar que, a intenção não era despertar a violência, mas sim mostrar uma coreografia bonita, diferente e que despertasse a atenção de todos.

Fiquei impressionada e pensei: como em pleno domingo, único dia no qual a maioria das famílias podem se reunir, um programa de grande audiência leva ao ar uma imagem tão violenta?

Sim, porque em todos os momentos a "música" transmite isto: a letra é constituída de palavras que incitam a violência, tais como: paredão armado, vingar, comando, metralhadora, prontos para atirar, seguida de imagens que reforçam esta visão: vários jovens “sarados”, com vestimentas, adereços e gestos agressivos, tocando diversos instrumentos musicais, mas que no vídeo transmitem a ideia de armas.

O vídeo termina com a cantora apontando o dedo para os jovens, seguido de um som que lembra o ecoar das balas saindo de uma metralhadora e, então eles tombam, levando a concluir que foram mortos.

Será que a coreografia e adornos usados conseguiriam remeter algum usuário a uma “agressão bonita”? Isto existe? Creio que não, pois ninguém conseguiria gostar, descansar, cantar ou mesmo dormir, embalado ao som de palavras e imagens, que insistem em lembrar o barulho de uma metralhadora disparando seus inúmeros tiros.

Esta canção surge, após várias experiências e estudos comprobatórios de que, nas canções violentas, as palavras de sentido ambíguo conduzem a interpretações mais agressivas, aumentam os sentimentos de hostilidade sem provocação ou ameaça, bem como a velocidade relativa com a qual as pessoas leem palavras agressivas e aceitam a agressividade como algo normal.

Se aceitarmos isso como "música", então ela que sempre foi tão prestativa e solidária com todos em momentos bons ou ruins, teve seu papel invertido.

Ela que tanto ajuda a coibir as agressões, leia-se, cyberbullying, agora é usada de modo inverso, levando a entender que é uma arma, uma agressão e que a qualquer momento irá agredir alguém.

Sônia Maria dos Santos Araújo - Ms. em Educação

O respeitar faz bem!