O advogado de Temer, na defesa do presidente, atacou todas as instâncias do Judiciário, dando a entender que esse Poder está dando uma espécie de golpe de Estado, assumindo poderes que o coloca acima de todos os demais.  Pode ser. A acusação tem lá as suas razões. Há quem diga que metade dos procuradores e juízes brasileiros acha que são deuses e a outra metade tem certeza. Que uma boa parte desses zelosos funcionários públicos adora um holofote, isso nem se discute. É fato que a Constituição de 1988 ampliou sobremaneira as atribuições da Polícia Federal e deu ao Ministério Público poderes que as Constituições anteriores não haviam outorgado. No regime das cartas anteriores jamais um Procurador Geral da República faria o que o Dr. Janot fez. E durante o regime militar, isso seria impensável. Aliás, a pouco tempo atrás, no governo de Fernando Henrique, procuradores gerais eram funcionários cooptados para defender o governo e não para acusá-lo. Todos se lembram do Dr. Geraldo Brindeiro, chamado de engavetador-geral
A acusação feita pelos advogados de Temer e seus ministros, todos denunciados por participar de uma quadrilha que vem assaltando sistematicamente os cofres públicos, não é sem razão. O que a macula é a motivação. Pois ela se destina, não só a esvaziar a denúncia feita pelo Procurador Geral, mas principalmente a torpedear uma cruzada que se levantou contra a endêmica corrupção que tomou conta do país. E que tem, no comando dessas operações de rapinagem, justamente a classe política. Essa cruzada, que os ilustres defensores do presidente e seus ministros atacam, já não é mais somente do Ministério Público, da Polícia Federal e dos Magistrados, mas de todos os brasileiros, que querem ver o fim da gloriosa impunidade que os senhores políticos se deram ao votar leis que os colocam fora do alcance da Justiça. E por conta disso pensam que podem violar todos os limites da moralidade e da decência. O mandato parlamentar é sagrado sim. Mas o caráter sacro dessa investidura tem fronteiras e esta não pode ser tão ampla que só admita o crime inafiançável e a prisão em flagrante como marco regulatório. Isso é dar corda demais para uma classe de cidadãos que já mora dentro do poço e pode retirar de lá, a qualquer hora, a quantidade de água que quiser.
Juridicamente, os críticos da Operação Lava a Jato e todos aqueles que vociferam contra os poderes que o Ministério Público vêm se investindo, de forma sub-reptícia, dizem, podem ter razão. Um Poder não deve sobrepor-se a outro. Mas também, nenhum Poder pode se conceder privilégios como os que os membros do Legislativo outorgaram a si mesmos. Se o que se quer é um país justo, então está mais do que na hora de acabarmos com essa odiosa blindagem. Acima de tudo, todos são funcionários públicos. Que sejam tratados como tais. E que nessa briga de cachorros grandes, a mordida não sobre, como sempre, para o povo.