A DINÂMICA DO DESAFETO E O CORAÇÃO DO TORCEDOR

Há muito tempo o futebol deixou de ser o que era, e nós, como torcedores, também. Muito embora demoramos um pouco para sacar a real e de certo modo ainda não sacamos. Quantos de nós deixamos de ter paixão pelo nosso esporte predileto e passamos a sentir um frágil e mero sentimento de "tanto faz". Sabem por quê? Ora, há muito virou um negócio, sempre foi, só mudou de propósito. Aliás, o futebol é um produto qualquer, menos para a torcida. Eles estão lixando para os torcedores, a gente é que não sacou ainda. Eu bem lembro! bem me lembro! Era no glacial dezembro (trecho de de Allan Poe - O Corvo, cujo não consegui evitar), se entenderam bem, refere-se aos bons tempos em que eu era fã da Fórmula e, em seguida, quando Senna se foi, foi-se também a Fórmula junto com Senna. O amor que eu sentia pelos jogos de corrida agora descansa junto ao túmulo de Senna. Ora, não era pela Fórmula 1, era pelo Senna. Eis a dinâmica. O mesmo acontece no futebol, a ausência do amor platônico pelo esporte é justificada pela ausência de ídolos. O resto é conversa fora. O futebol não tem mais ídolos, acabou! Você torce para estranhos? Não. Você torce para um clube sem ídolos? Certamente que não. É o que acontece, não há tempo de sentirmos apego àqueles jogadores que nos conquistam de imediato pelo seu diferencial, muitas vezes mostrando um futebol de nível irreverente e único: "Ronaldo, Ronaldinho Gaucho, Robinho, Neymar, para os mais contemporâneos de nossa época. Um exemplo histórico e incontestável do futebol Brasileiro fica a título do Palmeiras, quem não se lembra de Paulo Nunes (o diabo loiro debochado) e seus gols singulares, sobretudo seu jeito provocativo de jogar; Eller (o filho do vento); Arce e seus cruzamentos fatais; Amaral e seus dribles geniais, Djalminha (que MEIA, que MEIA); Zinho (Tetracampeão Mundial); Oséias (um quase mito, um ídolo por acidente); Junior Baiano (aqui não, zé); Cléber (a muralha), igualmente; César Sampaio (Capitão); Júnior (quando tamanho pequeno é coisa de gente grande); Rogério (um volante de luxo); Roque Júnior (Campeão pela seleção 2002); Alex (kcraque) e seus gols de faltas, por fim, Velloso (aquele mecânico galã de olhos azuis, bom e bonito que você só encontra nas oficinas de novela da Rede Globo); enfim, o melhor exemplo do futebol que há muito se foi. Por fim, quando um jogador começa a despertar no coração da torcida a marca de um ídolo, em tempo record o cara se vai. O torcedor fica no vácuo. E o não vira sequer um mito; não fica sequer na memória.

O jogo do momento é um negócio. O rumo que o esporte tomou (eles); os donos, os grandes, a diretoria, enfim, estão pouco se lixando para a torcida. Perceba: antes um ídolo era promessa duradoura, tínhamos pelo menos a leve sensação de que o cara amava o time, era da torcida e para o time. Hoje basta o cara se destacar um pouco e já era, vira um produto manufaturado. O valor de um bom jogador está no dinheiro vivo, é só o que importa, porque o dinheiro é acima de tudo mais importante, claro, mas não para o clube, antes fosse, ao menos teríamos a chance, a chance de vibrar com bons nomes e desfrutar de bons momentos. Dolo. Ilusão. Remorso. O dinheiro é mas importante para os donos do negócio. Dana-se o time, quem dirá a torcida. Cito outro: "Gabriel Jesus", Palmeiras. Eu até que estava começando a gostar do cara, mas, já era. Nem decantou no time. Se compararmos o nível decadente do futebol Nacional de hoje à época do Palmeiras cujo patrocinador era a gigante Parmalat, 1999, de 11 jogares pelo menos 9 eram ídolos ESPETACULARES. Atualmente um grande clube não tem sequer um ídolo, eu disse (1) único ídolo que valha pena meu ingresso. Assim são todos os times, mantem lá um Luiz Fabiano da vida ou cai, cai qualquer; um meia boca das pernas e tá PRIME. Pergunto, quantos ídolos têm no seu time de hoje em dia?

Solução? Ou mudam eles ou mudamos nós, porque o futebol é ilusão, não vale a pena ter amor por algo que somos frequentemente traídos. O futebol está em declínio há muito tempo. A única coisa que faz passar a impressão de que o futebol ainda tem alguma importância é a cobertura patética da mídia e cara de pau dos repórteres que fingem exaltar uma certa importância do futebol. Em resumo, o futebol de hoje é a Formula 1 sem Senna. Não dá mais! O futebol não tem muito tempo de vida. Mais uma vez: ou acordam eles ou acordamos nós.

Eu bem me lembro! bem me lembro! Era no glacial dezembro, de uns tempos bons cujo não lembro mais quando foi a última vez que fui ao estádio ver o meu time jogar.

Flertes de poesia à parte, talvez o torcedor de modo geral ainda não tenha percebido que, se vamos ao estádio não é exatamente pelo time que torcemos; há uma diferença sutil, mas gritante; isto é, se vamos ao estádio é porque, além de um bom jogo, queremos sobretudo é ver nossos grandes ídolos fazendo o que fazem de melhor: "encantar a torcida". Eu disse "encantar", e não jogar apenas. Essa é a diferença do futebol. Não há mais. Acabou! Gabriel Jesus vinha conquistando a torcida, pergunto cadê o cara? Já era. A maquina do negócio debocha da nossa cara. Eu amo o Palmeiras, mas repito, desde 1999 isso "virou um tanto faz", de lá pra cá o futebol nunca mais foi o mesmo. Compare o futebol com o amor da sua vida, e quando menos você espera é traído por ela. Então não faz sentido se dedicar a um amor certo de que esse amor irpa nos trair? Já era, gente. A dinâmica do 'jogo' assassinou nossos ídolos. O amor mais tolo é amar em vão.

eu, caindo de sono e exausto de fadiga

ao pé de muita lauda antiga

de uma velha doutrina, agora morta

ia pensando, bem me lembro!

Bem me lembro! Era no gracial dezembro

por enquanto, ao menos, nunca mais.

Poesia Tofilliana
Enviado por Poesia Tofilliana em 18/08/2017
Reeditado em 18/08/2017
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