Análise Literária -"tela de tv: espelho de você"- Por Edna Frigato

tela de tv: espelho de você

Me abrace e me dê um beijo / Faça um filho comigo / Mas não me deixe sentar na poltrona / No dia de domingo / Procurando novas drogas de aluguel / Neste vídeo coagido / É pela paz que eu não quero seguir admitindo (Marcelo Yuka)

Faltou luz mas era dia / O sol invadiu a sala / Fez da T.V. um espelho / Refletindo o que a gente esquecia (Marcelo Yuka)

atual ex viciado!...

ao pó retornarás sim!

e no começo do fim

estará tudo acabado

mas preciso de mais dados...

deixa um pouquinho pra mim!

paranoia de noiado

desse jeito sempre assim...

ajuda a missão resgate!

desemprego ao traficante!

cabe às drogas no combate

volver o dinheiro de antes

te vê a tv na audiência:

imagens da decadência...

30/10/2016

RENATO PASSOS DE BARROS

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Análise Literária do Soneto "tela de tv: espelho de você" por Edna Frigato

Falar da estrutura do teu soneto é um tanto desnecessário, já que todos eles são, rigorosamente, metrificados com rimas inéditas e cadência perfeita. Esse eu achei diferente por ser heptassílabo. Nunca havia lido um teu com essa estrutura silábica. Como sempre, o título ressalta sua criatividade na escolha desse quesito: "tela de tv: espelho de você", sugerindo que a tv nos molda. Como se tivesse vida própria, ela faz, em seus receptores, uma lavagem cerebral e assume o comando de suas.

A epígrafe da banda brasileira "O Rappa" reafirma o enredo poético do soneto escolhido. A alusão que você faz às drogas, logo no primeiro quarteto, é mais que pertinente, pois estudos feitos pela Academia Americana de Pediatria comprovaram que seu efeito no cérebro das crianças é algo muito parecido com o que a droga faz. A superestimulação modifica o desenvolvimento do cérebro da criança, provocando problemas como: agressividade, impulsividade, impaciência, dificuldade de concentração, confusão mental, etc. Nos adultos, os problemas não são menores: vão desde questões relacionadas à saúde física e psicológica, passando pelo empobrecimento psicossocial até a alienação total.

No segundo quarteto, o verso "paranoia de noiado" deixa bem claro o efeito quase alucinógeno dessa "droga" aparentemente inocente, presente na grande maioria dos lares. No terceiro quarteto, você mostra que, tal qual outro tipo de droga, a tv enriquece, não apenas os fabricantes que a cada dia lançam modelos cada vez mais sofisticados, mas também a mídia que se utiliza desse aparato tecnológico pra promover produtos e pessoas nas mais variadas esferas da sociedade.

O dístico final é o xeque mate: “te vê a tv na audiência: imagens da decadência...". Quer dizer, os altos níveis de audiência mostram, claramente, o nosso nível de decadência. Outra coisa que vale ressaltar no seu soneto, Poeta Renato, é a sua perspicácia na escolha da estrutura silábica "heptassílabo" talvez para passar ao leitor a idéia de velocidade das imagens com as quais somos literalmente bombardeados e viciados pela tv; talvez não, mas essa foi minha interpretação já que não conheço nenhum outro soneto teu de sete sílabas poéticas. Claro que hoje existem outros aparatos tecnológicos tão agressivos e viciantes quanto a tv, entre eles, computadores, vídeo game e celulares de última geração. Mas, ai já é outra história.

Parabéns, Renato! Por trazer até o leitor, além da beleza poética dos teus sonetos, a oportunidade de reflexão e debate no âmbito do tema proposto. A forma como você "amarra" e conduz o enredo de suas obras poéticas é magnífico. Parabéns, de novo... E mais uma vez!

EDNA FRIGATO em 01/11/2016

Edna Frigato
Enviado por Edna Frigato em 06/11/2016
Reeditado em 06/11/2016
Código do texto: T5814543
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