Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupéry

UM DIÁLOGO COM AS ESTRELAS

"On ne voit bien qu'avec le coeur.

L’essentiel est invisible pour les yeux".

ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY, dans le:

"Le Petit Prince."

Considerada a terceira obra literária mais traduzida em todo o mundo, para mais de duzentas e cinquenta idiomas e dialetos, vendendo milhões de cópias desde seu lançamento em 1943, a história do principezinho deslumbra, até hoje, milhares de ledores das mais variadas faixas etárias, mantendo seu inconvertível prestígio e notoriedade literária conquistada através dos anos.

As características gerais concernentes à obra, - a saber: o modo inteligível como o literato consegue desenvolver o enredo, a diagramação e as aquarelas próprias do autor – incute a impressão ao legente que o livro versa sobre uma obra infantil. No entanto, é inescusável ressalvar que o livro, muito mais do que uma novela, fábula ou ficção especulativa é um chamado ao leitor, preconizando a uma profunda análise a própria condição existencial, - propondo ao leitor à uma deambulação pelos meandros da própria consciência. Para Ravoux (2008, p.18) “O pequeno príncipe é uma alegoria onde se discerne a vontade de fazer compreender as crianças, como alcançar a verdadeira dignidade do homem, continuando a olhar as coisas com a simplicidade de seus corações e não com a vaidade dos pretensiosos”.

O autor se mostra favorável com a espontaneidade das crianças. É ostensível: A razão cede o trono a magnanimidade dos sentimentos do Pequeno Príncipe, - e não por ocasião da casualidade, - o principezinho não é identificado pelo nome e sim pela nobreza de seus atos, imbuído de nobreza incomensurável, singular e excepcional. Estando a meio caminho da majestade de um rei e a subserviência de um adulto comum. – Estes traços distintivos, vinculam-se a capacidade de que o principezinho tem de se envolver com os sentimentos que são provocados externamente nele, demonstrando extrema reciprocidade.

Há uma impressão axiomática, em que o mundo que vivemos é sobremodo díspare com o discorrido no livro. No Planeta Terra “concreto”, somos lógicos, metódicos, açodados, e ordinariamente costumamos negar à nós mesmos sentimentos que retemos para com outrem.

Além disso: Não podemos assistir ao pôr do sol quarenta e três vezes por dia, não nos arriscamos a emitir justos juízos com base em conhecimentos empíricos, - conquanto, do que outros já disseram, - não nos dispomos a cheirar rosas, escutar os animais - ou até mesmo as pessoas com as quais convivemos, - não nos satisfazemos com o lugar onde habitamos, ou amigos que fazemos ou a confiança que inspiramos, e não bebemos para esquecer a vergonha que temos de beber.

Antagonicamente, concebemos ações que ultrapassam nossas forças e habilidades. – Imitamos adultos ao telefone, pilotamos máquinas que sobrevoam a Terra encurtando tempo e distância, e nos reduzimos a soldados corajosos e madames vaidosas.

Insolitamente Exupéry, estava em meio em plena Segunda Guerra Mundial quando lançou a primeira edição de Le Petit Prince, e tornou-se uma espécie de porta-voz em defesa de um mundo mais tolerante, cujo governo seria provavelmente melhor, desde que inspirado pelos eméritos atos e palavras de uma criança que habitava um asteroide – nomeadamente B612 – exclusivo. Segundo FERRY, Luc (2006, p. 300), “Toda grande filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental de humanidade”. – Podemos conjecturar que o autor possa ter metamorfoseado todos os abomináveis e condenáveis panoramas que tivera da guerra nesta inefável alegoria. – Transcendendo o raciocínio, posso prognosticar que ele tenha transposto no livro suas experiências pessoais, ensinando-nos tudo que não devemos fazer, contrastando realidade e ficção.

Trata-se de um enredo repleto de metáforas. A delicadeza e a vaidade da Rosa lembram o que vivenciamos quando diante de nós representa o amor exclusivo. Amor: Este sentimento tão particular quanto a Rosa que o príncipe deixara sobre a redoma, ao abrigo do carneiro, em seu planeta de origem.

Eis a Rosa que enfeita e perfuma; o carneiro que aquece e afaga e o principezinho que reúne em si ambas características, nos moldes de uma pessoa que prefere as sensações ao cálculo neste mundo caótico que vivemos.

Verifica-se que fazer uma análise filosófica do livro não é só uma possibilidade de realizar sua leitura, todavia, uma obrigatoriedade do leitor. O livro não é só um conjunto de alegorias divididas por capítulos – que auxiliam o leitor a se situar no cenário e ajudando a dar noção de temporariedade.

O Pequeno Príncipe não é um livro de filosofia. No entanto, a obra de Saint-Exupéry está marcada com elementos filosóficos que podem ser encontrados numa leitura mais atenta do texto. Ravoux (2008) aponta as regras do método de Descartes como uma possibilidade de interpretação da obra. A fidelidade, a dúvida, a análise, a dedução ou síntese e a enumeração ou indução formal são muito importantes para conduzir bem a razão e chegar à verdade que determina o sentido de nossa existência.

As conversas do aviador com o pequeno príncipe giram em torno de perguntas fundantes da filosofia: Quem sou eu? Quem é você? De onde vim? De onde você veio? Para onde vou? Para onde você vai? Essas perguntas são respondidas de maneira gradativa na história. Os diálogos entre o principezinho e o aviador são marcados por perguntas cujas respostas não vinham, de maneira fácil: “De onde vens, meu caro? Onde é tua casa? Para onde queres levar meu carneiro? (...) A cada dia eu ficava sabendo mais alguma coisa. Mas isso devagarzinho, ao acaso das informações colhidas de suas observações” (SAINT-EXUPÉRY, 2009, p. 14-19). O conhecimento do outro e do seu mundo é importantíssimo para o reforço da identidade própria. É no encontro com o outro que nos conhecemos de forma mais consistente.

A obra é um incentivo para a construção de um sentido para a vida baseada em valores humanistas. O autor teve intenção de falar com seus leitores muito mais coisas do simplesmente contar uma história belíssima. – Afirma nosso principezinho: "On ne voit bien qu'avec le coeur.” [Só se vê claramente com o coração], a obra atesta a lisura, precisão e fidedignidade das palavras do principezinho.

A vida humana é feita de encontros e desencontros e tomando como início cada encontro e cada partida o ser humano constrói-se como pessoa e cria sentido para a sua existência O aprendizado que nos oferece o pequeno príncipe é que, construir a identidade humana, através do encontro com o outro e com o mundo, nos dá abertura para dar um sentido para a vida e consequentemente para a morte.

A mensagem não está epigrafada, é necessária incalculável excitabilidade e sensibilidade do legente para notar nas entrelinhas toda a significância imersa no texto.

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Referências Bibliográficas:

• FREITAS, Mauro Ricardo de - A PHILOSOPHICAL APPROACH TO SAINT-EXUPÉRY’S THE LITTLE PRINCE – Faculdade Católica de Porto Alegre. Disponível em: <http://www.theoria.com.br/edicao17/02172015RT.pdf>

• EXUPÉRY, Antoine de Saint – Le Petit Prince “Edição Especial” – Martin Claret, 2015 – Páginas 7 a 15, 111 a 116 e 121.

Matheus Hipólito
Enviado por Matheus Hipólito em 15/09/2016
Reeditado em 15/09/2016
Código do texto: T5762208
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