O mito & o sonho - Crítica do meu livro "Fragmentos da Insônia"

Por Krishnamurti Góes dos Anjos

“Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação através dos tempos”. Esta definição cunhada pelo estudioso norte-americano Joseph Campbell (1904–1987), vem de encontro a uma mitopoética praticada por alguns autores da literatura contemporânea. Mitopoética entendida como uma certa organização semântica que combina elementos da mitologia antiga com o objeto literário. Isto ocorre quando autores arquitetam suas tramas poéticas utilizando da fabulação mítica. Ou seja, poemas comprometidos com princípios (imutáveis e eternos) que intermedeiam o referencial cotidiano e as instâncias do imaginário.

Solange Firmino acaba de publicar pela Editora Benfazeja, “Fragmentos da insônia”, obra poética com fortes pendores e apelos ao mitológico, de forma que parte dos poemas atualizam mitos (ora sutilmente sob a forma de sombra, ora desveladamente), ressignificando a realidade por meio do imaginário simbólico, com o intuito de realizar sonhos. Nada melhor do que a mitologia para viabilizar tais anseios, e assim, redimensionar tempo/espaço e reescrever seu projeto existencial sem abster-se entretanto, de (re)pensar a condição humana na contemporaneidade. Cumpre lembrar a propósito, que o ato da criação literária está atrelado às camadas primordiais preexistentes nas profundas camadas do ser. Portanto manifestação do inconsciente de que a poesia se nutre ontem, hoje e sempre.

Trecho do poema “Renascimento”.

“Tal como o mito,

levanto-me discreta e lúcida.

Eis aqui meus versos eternos.

Abro minhas asas para o infinito e voo

mais uma vez”.

O ato da criação literária propriamente dita é outra vertente importante nessa obra (ao qual é dedicado mais de uma dezena de poemas). Usando de uma verticalização sugestiva a autora acaba por evidenciar a essência, o cerne do momento revelador, como acontece no poema,

“METAMORFOSE”.

A essência é a natureza de tudo.

No poema, a essência é a palavra

dita,

não-dita

ou sugerida.

O casulo do silêncio

prepara a palavra na raiz.

O poema nasce do casulo-ideia

abre suas asa e pousa

na brancura do papel

à espera de fonemas

que se transformem

em essência-ideia novamente:

Metamorfose”.

A essência do verso é o som da palavra.

Sagrado som

na essência da vibração:

Mantra.”

Este título “Metamorfose”, nos remete a uma terceira característica da criação literária de Solange Firmino, esta de caráter sintético, por assim dizer. Observamos no conjunto da obra, uma corrente de ligação semântica muito expressiva e recorrente, que denuncia seu ritmo como expressão daquilo que no mundo interior da autora é permanente movimento em espiral ascendente; o ritmo como sequência de sons, de sentidos, e de sentimentos, que formam uma unidade perfeita, obediente a uma sucessividade existencial permanentemente coesa, e expressa no ciclo: semente>ovo>casulo>crisálida>borboleta>voo>liberdade!

É graças à força da sugestão que Solange imprime em sua poética, tecida sobretudo para aqueles que sonham acordados, que o próprio sonho transposto em possibilidade, acaba predominando como realidade, e impõe o seu fascínio enquanto Vida.

REDENÇÃO

“O silêncio da noite,

antes insônia,

agora é despertar.

Assisto à vida sem pensar

em mais nada”.

Livro: Fragmentos da insônia, de Solange Firmino. São Paulo. Editora Benfazeja, 2016. 80p.

*** Quem quiser adquirir o livro, entre em contato comigo no e-mail solange.firmino@gmail.com

Solange Firmino
Enviado por Solange Firmino em 30/08/2016
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