Considerações de análise do poema “Um em quatro”, de Carlos Drummond de Andrade

Um em quatro

A Z

b y

A&b Z&y

Ab yZ

AbyZ

quadrigeminados

quadrimembra jornada

quadripartito anelo

quadrivalente busca

unificado anseio

umcavaleiroumcavaloumjumentoumescudeiro

Enredo do poema: Duas pessoas e suas respectivas montarias unem-se na busca de um ideal e seguem uma mesma jornada.

Estrutura e conteúdo: O poema “Um em quatro”, de Drummond, pode ser caracterizado como pertencente à poesia concreta, na qual, em suma, o verbovisual tem o sentido supervalorizado do desprendimento do poeta em relação às normas clássicas da lírica. É no campo sintático que ocorre a ruptura total com a sintaxe tradicional. No léxico existe o aparecimento de neologismos, pela superposição da palavra “quatro” no início de cada expressão criada; no sentido de equivalência conotativa das palavras, já que as mesmas, por si só, apresentam um sentido denotativo. Do ponto de vista fonético, o que se evidencia é, sobretudo a repetição sonora. Existe também uma abolição quase que total de versos; os espaços em branco intensificam o significado geral do poema, que é justamente a diferenciação entre os sujeitos-componentes a fim de posteriormente ligarem-se por um mesmo ideal. Uma diferenciação entre o realista e o sonhador. O verbal e o visual são aspectos unívocos no poema. A e Z são as letras opostas do alfabeto e são usadas, no poema, para representar as personagens Dom Quixote e Sancho, personagens de Cervantes, as quais são díspares em suas características psicológicas. As letras minúsculas logo abaixo, referem-se aos animais montados pelas personagens; um cavalo e um asno. As letras maiúsculas e minúsculas então são juntadas; formando assim o par homem/animal (A&b), (Z&y), e, finalmente os quatro seres unem-se pela busca dos mesmos anseios. Através da junção (umcavaleiroumcavaloumjumentoumescudeiro), vê-se a fusão dos quatro elementos-componentes por uma única semelhança: o unificado anseio, o desejo da conquista. O último verso, totalmente unido pela fundição de palavras, é um agente que indica um único caminho. A extensão é uma linha reta (o caminho), na qual são caracterizados os quatro componentes da jornada (Quixote e seu cavalo, Sancho e seu asno). O início de uma louca jornada dos quatro em busca do sonhado. Outro aspecto importante a se analisar no poema, quanto à questão visual, é a variedade de referências a que o leitor é disposto, para que o mesmo descubra de que assunto se trata o poema. Uma possibilidade é notar que o todo da organização do texto forma a imagem de um moinho de vento: os primeiros cinco versos compostos pelas letras soltas formam a hélice do moinho; o corpo do moinho é formado pelos cinco versos que se referem à junção dos quatro seres; já a base do moinho é formada pelo verso final, em que todas as palavras se convertem em uma mesma palavra grandiosa, assim significando a junção dos quatro seres por um mesmo ideal, sob um mesmo caminho. A base do moinho sintetiza essa ideia de base sólida, bem construída, indissociável para a conquista: a união (quer seja ela formada por palavras, por convicções, ou pela figura das quatro personagens).

Apoio rítmico: O apoio rítmico do poema está nos neologismos dos versos (6, 7, 8 e 9).

É a partir do “quadri” que se quebra a linearidade do som, podendo assim fazer a pausa nesse segmento do poema. O poema também leva em conta a alegoria, já que existe no plano literal da figuração poética o sentido de quatro seres que se unem seguindo um mesmo caminho, entretanto é no valor essencial da mensagem poética que repousa o plano do significado transliteral: tratam-se das personagens de Cervantes (Quixote e seu cavalo, Sancho e seu asno), que assumem o valor do poema, sintetizando a temática do mesmo: a união das pessoas na luta pelo sonhado.

Busca: substantivo feminino

Jornada: substantivo feminino

Anelo: substantivo masculino

Geminados: adjetivo

Anseio: substantivo masculino

Quanto à natureza das classes de palavras: Conhecendo-se a historia de D. Quixote, e sabendo-se que Quixote e Sancho deixaram sozinhas duas figuras femininas de suas vidas, pode-se validar:

BUSCA e JORNADA sendo substantivos femininos relativizam a existência dessas duas mulheres que foram largadas para que a jornada se cumprisse, completando-se a busca pelos ideais das duas personagens masculinas.

Outra possibilidade seria a ligação dos dois substantivos femininos com o fato de Quixote personificar uma dama ideal (Dulcinéia) (BUSCA), e isso depende do seu querer (JORNADA), que se concretiza com a ajuda do poder (SANCHO).

ANELO e ANSEIO são os dois substantivos masculinos que remetem a mesma significação: aspiração. Assim confirma-se com esses substantivos a temática geral do poema: dois homens seguindo um mesmo caminho, guiados pela aspiração a alguma coisa (no caso sabe-se que Quixote aspira à Dulcinéia e que Sancho lhe evoca a ajuda do poder fazer).

Quadrigeminados/quadrimembra/quadripartito/quadrivalente: são todos adjetivos, e são referência aos quatro partícipes do enredo; essas adjetivações vem a calhar no sentido peculiar dado a essas formações, no que resulta uma mensagem reforçada na manutenção da ideia-imagen das quatro personagens.

Quadrigeminados: no sentido do ideal ter nascido a partir das quatro personagens.

Quadrimembra: como significação de um todo unido por quatro membros (o IDEAL unido pela jornada dos homens (duas pernas cada qual).

Quadripartito: separada em quatro, como caracterização da individualidade de cada personagem, contudo unidos pelo mesmo segmento.

Quadrivalente: reconhecendo a valência e a importância de cada parte (personagem) para a conquista do sonhado/idealizado.

Artigos: o uso de artigo indefinido UM para identificar “cavaleiro, cavalo, jumento e escudeiro) até poderia representar o desconhecimento das personagens, mas é pertinente a condução às figuras de Quixote, Sancho, Rocinante (o cavalo), e o asno. Sendo que os substantivos superam os adjetivos em número, há nesse caso, uma centralidade no poema, que é descobrir quem são as personagens escondidas atrás dos substantivos. Há predominância da substância do ser em si (o principal para o entendimento do poema).