Filme - Como estrelas na Terra - Toda criança é especial.

Texto de Daniel Barthes.

Como estrelas na Terra – Toda a criança é especial.

É um filme lírico, comovente, que nos faz relembrar, sentir e pensar sobre episódios pelos quais já atravessamos em nossa infância, enquanto vítimas de incompreensões, ou, algozes. Uma infância que sempre se pretende idílica, referta de boas lembranças, é subitamente atraiçoada por um desses acidentes que brotam do inesperado em nossas vidas.

É um filme sobre uma infância de início segura, com os atropelos costumeiros, até um momento mais cruel, ocasionado pela perda pela criança, do calor, da segurança e do aconchego familiar, quando a distância torna inalcançável o abraço materno e ela se vê atirada em um mundo de lógica consumista onde o sucesso, eleito como fim em si mesmo, a busca pelo dinheiro, para saciar vontades artificiais criadas pela indústria do consumo e de projeção social, se transformam em imperativos aos quais não podemos nos fazer de surdos para não sermos ostracizados pela sociedade de consumo na qual percorremos os nossos caminhos, a maior parte do tempo, composto por enganos.

Ishaan, é aquele menino distraído nas aulas, brincalhão e muitas das vezes o mais castigado da turma, aquele menino traquinas que todos tivemos como colega de escola e muitos desejaríam ser igual, se não tivéssemos medo das desagradáveis consequências da inadaptação decorrente, para aqueles que ousam comportamentos outsiders em seus passos de incerteza pelo mundo.

Ishaan, nos dá uma lição de como sermos sensíveis ao outro e a nós mesmos, permite-nos o delicioso exercício da permissão concedida ao encanto e à doçura, desabrochando em nosso íntimo com as cores mágicas de uma alegre/tristonha empatia.

É a visão de Ishaan, a de seus desconfortos com as incompreensões das quais é vítima que determinam o que sentimos e lemos no transcorrer da película. A uma distância segura, transformamos-nos também em Ishaan e nos aborrecemos com as injustiças das quais vemos ele ser vítima, ficamos tristemente exasperados quando o luciferinizam como se ele fosse um mau menino, porque sabemos que é ele inteligente, cordato, imaginativo, audacioso e tendo também elementos de uma comicidade ingênua e terna.

O seu único problema, que engendra uma série absurda de outros, dada a incompreensão da qual se torna vítima é a dislexia. Assim, na sala de aula, as letras saltam em um ballet confuso impedindo-no de decifrar seus significados, impedindo-no de ler ou escrever com um mínimo de correção.

Da mesma forma acontece com os números, se transformam em signos surreais saltitantes, impedindo-no de sequer se aproximar de uma possibilidade de compreensão.

A partir da apreciação superficial de seus professores despreparados para entenderem o que acontece com Ishaan, é nele reforçado um estereótipo que faz com que o menino sofra ainda mais, rotulam-no leviana e apressadamente enquanto alguém fadado ao fracasso, um menino preguiçoso que a metodologia da escola se mostra impotente para disciplinar.

Os pais, a mãe, essa com o coração confrangido, decidem colocá-lo em um colégio interno, onde, com maior rigor metodológico, acreditam que ele possa superar a sua preguiça.

Ishaan Quando isso acontece, partem em frangalhos o espírito do menino de maneira tal que ele deixa de pintar, de fazer brincadeiras e até mesmo de sorrir.

O único amigo que tem no colégio é curiosamente o melhor aluno da turma, que é perspicaz o suficiente para perceber a origem da dificuldade de Ishaan e reconhecê-lo como o rapaz inteligente e sensível que é.

O melhor aluno da escola, tvz em razão de sua deficiência, se torna seu melhor amigo, ambos sentem estranheza em relação aos outros alunos, mas, o menino que é o melhor aluno, tem uma melhor relação com a sala por estar lá a mais tempo, mas, também por que a sua deficiência física inata não o impede de acompanhar as aulas como todos os outros, inclusive, sendo aquele que obtém as melhores notas.

Contudo, a sua perspicácia o faz entender as possíveis razões das dificuldades de Ishaan e intuir a inteligência e sensibilidade ocultas pelo dislexia do amigo, que ele não sabe do que se trata, mas, percebe algumas de suas manifestações sobre o humor de Ishaan.

Nesse ínterim é trocado o professor de desenho. Em substituição ao anterior, entra um professor do riso, lúdico que convida as crianças à um ensino mais alegre e menos regrado. Observando e conversando com o melhor amigo de Ishaan, identifica o que causa a expressão de tortura no rosto do menino em todas as aulas. Sente-se imbuído da necessidade de ajudá-lo e começa a nesse sentido direcionar os seus esforços.

Ishaan, por esse tempo já era um menino abúlico, com expressão fechada, deprimidida e algo que se houvesse sido feito a mais tempo, aconteceria de modo menos difícil, torna-se então uma dura empreitada para o novo professor que, busca ajuda na própria escola, conversando com o diretor e outros professores, tanto quanto faz uma visita aos pais dos menino para saber mais e convidá-los a enxergarem a situação a partir de uma outra ótica.

A partir da ação mais consciente da professor, envolvendo o meio no qual a vida do menino gravitava e oferecendo suportes para que a criança fosse gradativamente superando suas limitações onde era possível e atingindo a sua genialidade que até então não tivera reforços positivos para se manifestar, através de uma ação positiva nesse sentido de todos, o menino começa a caminhar em direção ao seu destino de liberdade.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 21/05/2016
Código do texto: T5642690
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