AS TRÊS ESTAÇÕES DO POETA NO MUNDO

No seu primeiro livro, NAS ÁGUAS DO ARRUDAS, Estanislau já anunciava a sua poesia com momentos brilhantes como este:

ROBERTO


menino disperso
cabeça nas nuvens
pensamento no vento
olhar que não vê
sorriso distraído

menino atento
cabeça azáfama
pensamento ao léu
teu olhar é arte
teu sorriso inventa

em qual estória em quadrinhos pensas
quando esqueces o para casa?

que estória inventaste pelo caminho
que te fez esquecer o recado?

menino, invente estórias
deixe a imaginação tomar conta de tua cabeça
continue assim te amo assim
distraído, sensível, cabeça nas nuvens
coração na mão.


É importante reler este poema, porque é a síntese do seu olhar comovido e indignado, mas acima de tudo mágico. E este seu novo livro, TRÊS ESTAÇÕES, vai aprofundar esta visão mágica de forma especial: o poeta busca a companhia do leitor, para atravessar, de mãos dadas, as três estações de sua experiência poética, que é, fundamentalmente, no caso de Estanislau, a sua experiência de vida. Sua e nossa também, de muitos, poetas com ou sem palavras.
Na PRIMEIRA ESTAÇÃO, o poeta - ao mesmo tempo autor, personagem metáfora - está amarrado, retorcido num amaranhado de dúvidas e impasses. E declara:

"prefiro pescar até o cansaço tomar conta do meu corpo" (A Pescaria).

Na SEGUNDA ESTAÇÃO, descobre os traços de luz revelando novos objetos e pessoas. A luz ajuda a se revelar na revelação do outro. O poeta já fabrica a sua própria luz:

"era preciso encontrar, não o seu passado, mas o momento presente, o novo homem que surgira." (O Viajante II).
Aqui ele anuncia, sereno e "indomável": "o que fizeram do amor é tudo mentira." (O Amor).

Na TERCEIRA ESTAÇÃO, o poeta abraça a vida, descobre o seu lugar no mundo, no "deslugar" dos que ousam ser estranhos e teimosos. Transfigura a realidade porque agora, o "novo homem" refaz o trágico e o amargo através do olhar mágico do poesia. Exemplo maravilhoso e maravilhado desta sua nova visão de mundo: o poema O Consertador de Guarda-Chuvas". E outros: "Espetáculo Pirotécnico", e "A Praça".
Eu, você, nós leitores, de mãos dadas com o poeta Estanislau, somos convidados a atravessar estas TRÊS ESTAÇÕES e ser capazes, agora como nunca, de reparar "o que quase ninguém repara "como daquelas mãos trêmulas ele consegue dar pontos, prender barbatanas..." (O Consertador de Guarda-Chuvas).
O convite está feito. Vamos?


*Francisco Marques*

 

Escritor, poeta, ventriloquo, manipulador de bonecos e diabolô.  



Três Estações é o meu segundo livro e o primeiro a ser prefaciado.
Capa: Eliana
Ilustrações internas: Roberto e Eliana.
Edição do autor - semi-artesanal - 1987