CÍCERO E SEU DIÁLOGO SOBRE A VELHICE SAUDÁVEL
 



          Eu li  "A velhice Saudável", na minha fase de adolescente, tanto por gostar desce cedo de ler sobre tudo, quanto para tentar compreender minha avó paterna quase centenária, à época. Retomei a leitura desta obra recentemente. Eis a minha análise:
 

         

           Primeiro, vou expor a vida e as obras do autor.

 
 
                             Marco Túlio CICERO nasceu aos 3 dias do mês de janeiro do ano de 106 a.C., em Arpino, filho de família equestre. Assumiu a toga viril, no ano 90 e participou da guerra mársica em 89. Aprendeu ciência jurídica com Quinto Múcio Cévola e com outro Cévola que era pontífice. Chegou a ser o advogado criminalista de maior preferência em Roma, apesar de sua inclinação pela filosofia.

               ​No ano 66 a.C. alcançou o cargo de pretor urbano e obteve sucesso com o seu primeiro discurso político "De Império, Cn.Pompei", em 62 a.C., foi eleito cônsul quando então surgiu Catilina, o grande inimigo da República. Enquanto Pompeu lutava na Ásia, Cícero assumiu a defesa do Estado contra a conjuração liderada pelo Catilina que foi desmascarado e obrigado a deixar Roma. Cícero ganhou o título de "Pai da Pátria".

               No ano 48 a.C. César vence Pompeu, Em Farsália. Cícero se afastou da Política e em 44 a.C. César foi assassinado. Antônio pretendia suceder a César. Cícero apoiava Otávio e pronunciou as "Filípicas" contra Antônio. Este triunfou e exigiu a morte de Cícero, que pagou com a vida pela sua coragem. Antônio expôs a cabeça de Cícero na Tribuna dos oradores.

 
 
E 'Segundamente'
(brincadeirinha -rsrsrs- a grafia incorreta foi proposital)
passo a expor a análise da obra ... 

 


 A Velhice Saudável, de Cícero, tem por enfoque o aspecto filosófico sobre a fase da vida avançada do ser humano - a velhice - Lembrando que àquela época não havia o termo 'melhor idade'.



          Cícero saúda o amigo Tito Pompônio Ático, recém chegado de Atenas e ao abordá-lo sobre o assunto da velhice, o faz declarando que dedicou-lhe uma dissertação em formato de um diálogo entre Cipião, Catão e Lélio.

         Diz que o tocante às suas próprias definições,  acerca dessa fase etária, ele confiou à voz de Catão.



               Abre-se então o diálogo entre as três personagens supra mencionadas a respeito da figura penosa que, geralmente, a velhice projeta.

          Com o predomínio na exposição de uma filosofia estóica, qual postula que seja aceito tudo o quanto a natureza determina.



             Começa a abordagem indicando que a sabedoria consiste em contornar sabiamente os incômodos da idade, porém, em se tratando de vida avançada, há conforto maior se for advinda de um passado transcorrido com base na honestidade no agir.

      Que os incômodos e os desconfortos da velhice, são compensados pela dignidade de quem honrou uma vida pautada pelo bem.


           Segue-se o diálogo, com a apresentação das causas de uma velhice tida como intolerável, a saber, o afastamento das atividades, debilidade corporal, privação das volúpias e a negação da chegada natural da morte.

                            

          Ao abordar o distanciamento da vida ativa, Cícero adverte que o idoso, embora já não disponha da energia de outrora, ele sempre pode fazer uso do seu arsenal intelectivo e prudencial.

             Faz referência ao problema da diminuição do poder de memória e assegura que o poder da memória decresce, se a mesma não for cultivada. Expõe que não faltam exemplos de indivíduos idosos dotados de memória rica, pronta e fiel (minha mãe era uma dessas - destaque meu).



           Destaca a certeza de que a busca de algo novo encanta a vida, seja do jovem, seja do idoso. Essa abertura receptora faz da velhice um magistério simpático para a juventude, ainda mais quando ela percebe que também o idoso está aprendendo.


        
            Quanto ao vigor físico, Cícero admite que ele decresce, mas, em compensação, seu vigor ético-moral reforça-se, já que a velhice, amadurecida em sabedoria, torna-se pólo de atração aos ávidos por aprendizagem.

           O importante na idade avançada não é desfrutar de tanta exuberância no tocante ao vigor físico e sim, saber como ocupar o tempo, sem decair na ociosidade.



               Cabe, ainda, diz o sábio, saber distinguir entre os límites próprios da idade e as deficiências oriundas de enfermidades. É certo que o corpo cansa-se, mas o espírito alivia-se, quando exercitado, e há ainda as deficiências senis de origem psíquica.


      Outra acusação contra a velhice é o argumento da incompatibilidade com os prazeres físicos do corpo. Cícero, reconhece na volúpia, a fonte dos impulsos em busca de prazer sensitivo. Diz que na maioria dos seres humanos, a razão sobrepõe-se à volúpia, que é controladora de seus impulsos e atrativos. E no caso de a volúpia querer buscar o caminho da libertinagem, uma razão mais esclarecida, mais sábia e mais coerente buscará o comportamento ajuizado em consonância com um plano elevado de virtudes morais.

            E nessa guerra de oposição - diz o filósofo - com a experiência e a sabedoria da pessoa de idade avançada;  a discrição e a quietude contra a
 força compulsiva dos prazeres, àquela facilmente fica com a vitória.



          Em ampla notoriedade é visto sobressair-se o prazer da convivência festiva, e nesses encontros o partilhar da alegria vale mais do que os pratos do banquete. Esse tipo de prazer enseja ao idoso uma vida radiante de bem estar.

       Cícero lembra ainda que o encontro com a natureza, proporciona outra dimensão de bem estar. O texto passa a realçar o prestígio que circunda um idoso.




          No enfoque contra alguns defeitos típicos atribuídos a muitos idosos, como lerdo, irascível e impaciente. Cícero aborda uma diferença entre velhice e educação e diz que tais defeitos são antes marcas de uma educação deficitária do que propriamente algo típico da velhice.


          Por fim, o enfoque sobre a questão da morte, sobre a qual não pode ser considerada um mal da velhice, já que ela também ameaça a todos em qualquer idade, além do mais, um ser sábio, não a teme.


          Sobre a morte pode ser pensada duas alternativas: Pensar que é o fim de tudo ou pensar que por ela abre-se uma outra porta para a eternidade. De modo que ela apontaria para o nada ou para uma 'vida' perene .


          Quanto a falar em vida pós morte, o filósofo professa sua convicção na imortalidade da alma que permanece viva 'ad infinitum' (e eu comungo dessa fé) para ele, a alma é uma emanação do espírito divino que anima todo o universo. Ele assegura  que a vida presente é apenas uma morada provisória e que a definitiva está no além.


               Cícero conclui afirmando que a velhice é gratificante pelas múltiplas perspectivas que ela descortina para nossos olhos.


(Fiz consulta na obra da 'Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal" Tradução de Luiz Feracine/1927 - Sacerdote Católico do Clero Secular)


 
Por Madalena de Jesus


                           
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Na data de hoje: 27/10/2020, fiz uma correção ortográfica (Conforme frisei, em minha postagem original, que a palavra 'segundamente' entre aspas, não existe, foi apenas um recurso cômico, e isso vale também para 'primeiramente, visto que, primeiro aqui está na função de numeral e como tal, é invariável). Nisso, fui alertada pelo amigo Maurício de Oliveira, o qual levou esta análise para sua página 'Comentando a Poesia" e ao seu canal no You Tube com "Chá das 5" e eu estou muito agradecida e feliz. Obrigada caro amigo.