As aventuras de Huckleberry Finn - Mark Twain

A cada dois ou três capítulos deste livro, uma nova aventura; elas são muitas, curiosas, singulares e sobretudo engraçadas

Mark Twain - As aventuras de Huckleberry Finn, Porto Alegre, L&PM, 2011

Publicado há mais de 130 anos (em 1884 ou 1885; encontrei as duas datas) o livro de Mark Twain (1835-1910) sempre está presente nas listas elaboradas por jornais e revistas mundo afora como um dos cem melhores romances de todos os tempos. Resumidamente, e muito, As Aventuras de Huckleberry Finn narra as estrepolias praticadas pelos três personagens principais da obra, bastante conhecidos no mundo literário e artístico desde que o livro foi lançado.

O próprio Huck é o principal, claro, garoto rebelde que deseja escapar do pai bêbado e se aventurar pelo mundo, no caso navegar e viver aventuras na região do rio Mississípi. Depois, temos a acompanhá-lo em suas andanças pelo rio, em suas aventuras, Jim, um escravo fugitivo (a história se passa antes de Guerra Civil americana), e finalmente Tom Sawyer (que já havia protagonizado um livro homônimo em 1876), mas que aqui aparece como, digamos assim, coadjuvante, bem depois da metade do livro, mais para o final dele, em episódios bastante engraçados. Na verdade, o livro todo é muito engraçado, e, por vezes, tem trechos com proezas inacreditáveis.

No caminho de Huck e Jim, muitas aventuras, quase que uma a cada dois ou três capítulos (e eles são vários, mais de quarenta). Desse modo, pelo encantamento que elas e as estrepolias de Huck, Jim e Sawyer provocam no leitor, o livro tornou-se um clássico. E, como tal, o que nos resta é lê-lo mais do que propriamente discorrer sobre ele, porque é diversão garantida o tempo todo. Mesmo assim, preciso destacar alguns pontos. Começando pela Nota da Tradutora, Rosaura Eichenberg, na qual ela fala não apenas sobre a dificuldade da tradução (ótima, por sinal), reproduzir em português as falas, os dialetos característicos daquela região americana, coisa nada fácil, claro.

Outro ponto que Rosaura destaca é como os negros eram tratados - depreciativamente, é claro, pois eram escravos - na época em que Twain, que não era racista (tampouco seu personagem Huck Finn), escreveu o livro. O termo "nigger" então significava apenas negro, não tinha a conotação racista (ofensiva aos negros do país) que tem hoje nos EUA, daí que ela optou por usá-lo na tradução em vez de preto ou até mesmo escravo, como quiseram alguns editores americanos para "limpar" o texto. Coisa parecida que a esquerda festiva daqui, para não dizer coisa pior, tentou fazer ou fez, não sei bem, com trechos das obras de Monteiro Lobato.

Ernest Hemingway registrou que "(...) toda a literatura americana moderna se origina de um livro escrito por Mark Twain, chamado Huckleberry Finn (...). Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então." E H. L. Mencken também foi longe nos seus elogios: "Acredito que Huckleberry Finn seja uma das obras-primas da humanidade, equivalente a Don Quixote e Robinson Crusoé [...]. Acredito que, admitindo todos os seus defeitos, ele [Twain] escreveu um inglês melhor, no sentido de mais limpo, direto, vivido e são [...]. Ele está muito acima de Whitman e, certamente, não abaixo de Poe; [...] ele foi o verdadeiro pai da literatura neste país e o primeiro legítimo artista americano de sangue real."

Um pouco exagerado o Mencken nos seus elogios para Twain, mas em momento algum incorreto. E eu vou lá discordar de suas colocações? Ou do que registrou Hemingway? Nem pensar. Tenho mais é que reler Tom Sawyer um dia, isso sim...