Jó Contra o Irreal
Não importa a falta de caráter,
Não importa o roubo,
Não importa o caos,
Não importa a inconsciência.
Não importa a solidão.
Não importam as dores.
Não importam os dentes
Que me arrancaram os torturadores.
Não importa meu filho,
Que arrastaram
À porta do carro
Preso ao cinto.
Não importam os milhões,
Os bilhões mortos em batalhas.
Não importam as viúvas,
Os esquecidos nas masmorras.
Não importa o terror
Sobre a cabeça dos inocentes,
As bombas, os cercos,
A sede, a fome, o desespero,
O choro, a loucura.
Não importa a deterioração,
A castração do câncer,
A falta de ar nos brônquios,
A agonia.
Não importam as lágrimas
Sobre as tragédias,
Intestinos,
Sangue.
Não importa a revolta
Dos que amam,
Dos que suplicam,
Dos que perdem,
Dos que amaldiçoam os céus.
Não importa.
Não importa o homem.
Importas tu, meu Deus,
Meu regalo,
Promessa cumprida,
Caminho, verdade, vida,
Paz real ante o irreal.
(Brasília, 10 de junho de 2016)