Intermezzo

Tenho me dado aos poemas com fome,

com sede.

Como quem houvera atravessado desertos,

tenho buscado,

em poemas,

saciedade.

Versos escritos em tantas línguas,

e uma reticente confiança nos tradutores.

Eu tenho tentado nos versos dos outros

estancar

ou adiar

uma explosão.

Qualquer verso meu que rememore a urgência

com que minha boca encontrou a tua.

Os clichês todos de aludir ao desejo

como fome,

como sede.

Versos inscritos em tua língua,

minha reticente tradução do desejo.

Reinauguração do corpo.

Poema em carne e osso.

Quem escreveria?

Tenho me dado aos poemas

com a fome e a sede

com que te aguardo.

Luciana Cavalcanti
Enviado por Luciana Cavalcanti em 17/05/2024
Código do texto: T8065377
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