COMO ERA DIFÍCIL ALUGAR UM IMÓVEL

Como era mesmo complexa a negociação do aluguel de um imóvel alguns anos atrás, tantos eram os entraves no meio do caminho, que uma pessoa sem muita perseverança podia literalmente abandonar o barco pelo caminho.

Enquanto precisava viver na modalidade aluguel, a dificuldade se materializava em um primeiro momento na insensata busca de um fiador, essa espécie de anjo da guarda, que vai garantir ad infinito a responsabilidade por possíveis problemas financeiros futuros envolvendo o pagamento das mensalidades.

Para entrar nessa competição, então com regras muito flexíveis, você precisava adquirir um jornal de boa circulação bem cedo. Em seguida, esquadrinhar imóveis de interesse, entenda como interesse preço e localização compatível com sua disponibilidade financeira, limitada a no máximo 30% dos seus rendimentos devidamente comprovados.

Dificilmente você encontrava algum imóvel adequado a sua realidade, e que não contasse com acirrada concorrência. Isto gerava uma ansiedade sem fim durante o processo que as imobiliárias propunham.

Nesse momento da competição, claro, as imobiliárias, ou alguns poucos proprietários que lidavam direto com o contrato, e priorizavam em tese quem primeiro entregasse a proposta com toda documentação exigida. Depois, quem dispusesse de um fiador idôneo e por fim, quem tivesse um emprego com salário compatível ao valor do aluguel mais as taxas.

Tudo isso que descrevi acima, em tese definia o vencedor dessa corrida de obstáculos. Porém, fatores subjetivos podiam interferir nessa classificação final, afinal valia o olho tanto da empresa, como do locatário, afinal preconceitos sempre existiram, às vezes de forma velada, outras nem tanto.

Uma família numerosa podia vir a ser um empecilho, três ou mais jovens que se juntam para bancar uma moradia, ou mesmo a questão do racismo podiam facilmente subverter o resultado final.

O estresse nesse processo era quase paupável, pois na visita ao apartamento que atendesse pelo menos parte dos seus anseios, instantaneamente vinha logo um festival de idealizações, caso tudo desse certo.

Um detalhe importante era tomar pé da realidade, ou melhor, a possível frustração com ela. E claro, o mercado dispõe de considerável oferta em cidades grandes, porém em sua maioria quando atendia o quesito valor, falhava em consistência nos demais.

Importante lembrar como se perdia tempo nesta tarefa, e o pior, em grande parte das vezes, naqueles horários a princípio dedicados ao lazer. Ufa, só de lembrar dessas maratonas, me passa um cansaço pela cabeça.

Eu, com a agilidade inerente a uma motocicleta conseguia gastar menos tempo nessas visitas sem fim, e assim numa manhã acessar todos os imóveis, que a princípio me despertaram algum interesse.

Com o tempo vem o aprendizado, e isso já me permitia eliminar de cara alguns endereços, em outros casos, só de chegar ao local e olhar a fachada do imóvel, isso me bastava para eliminar essa possível moradia futura.

Essa via crucis, finalmente se encerrava, e para alegria geral do casal acabava sempre com um final feliz.

A notícia boa, é a de que essa foi uma das áreas que mais evoluiu em todos os aspectos, reduziu burocracias, permitiu acesso on line para visita do imóvel e ainda criou a figura econômica do pagamento de uma espécie de fiança, que liberta o locatário dos constrangimentos na busca de um fiador.