Sabe, tem algo que pesa no meu coração, uma verdade que a gente quase nunca fala: envelhecer sendo gay é carregar um fardo emocional invisível e pesado. Esse medo constante de acabar sozinho, sabe? Ele tá sempre ali, rondando, silencioso, mas tão, tão real. Eu sei que de modo geral, este é um medo que reside em quase todos os corações, não só os nossos. Mas quando olho para dentro da minha comunidade e vivendo nela e notando como gradativamente estamos ficando cada vez mais individualistas e alienados, cheio de traumas e complexos, só consigo ver um futuro triste e solitário para muitos. 

Na nossa comunidade, parece que só a juventude tem valor. A velhice? Ah, a velhice é quase como um fantasma, algo que ninguém quer encarar. Dói perceber que os olhares que antes nos desejavam, agora nos ignoram, como se a gente deixasse de importar só por envelhecer. A gente muda, claro, mas o pior é sentir que você se tornou invisível, que você não importa mais.

E o abandono, então? É um terror. Sem a estrutura de uma família tradicional, a gente depende muito dos amigos, dos parceiros. Com o tempo, essas redes vão se desfazendo. A solidão bate na porta e a gente se pergunta: "E agora?" - Nem filhos eu tenho!

Eu vejo tanta gente escondendo esse medo atrás de um sorriso, fingindo ser forte. Mas a verdade é que temos pavor de sermos esquecidos, deixados para trás. Por que a gente não fala mais sobre isso? Por que não criamos lugares seguros para envelhecer dentro da nossa própria comunidade?

A única certeza da vida é de que o tempo não espera e faz hoje o que tem vontade a qualquer custo pois sabe que um dia não terá a mesma virilidade, versatilidade e que vai se tornar invisível nos aplicativos e lugares. Talvez por isso, hoje desistiu de construir laços.

Cara, vocês estão deixando as coisas de lado, desistindo de amizades por nada, desistindo de relacionamentos por muito pouco, abandonando suas famílias porque não aprenderam a te aceitar, você ligou o *foda-se e não está lutando por ninguém, procurando um culpado e se vitimizando diante de uma sociedade em que está cansado de saber como é, está buscando perfeição onde não existe, olhando o outros como um objeto e vivendo de pequenas conveniências. Não estamos nos ligando no que de fato importa: A vida é breve dimais para acumular desentendimentos, mágoas, ego e vaidade. 

Todo mundo merece envelhecer sabendo que vai ser amado, valorizado. Ninguém deveria ter que enfrentar o medo de ser deixado para trás. Precisamos mudar isso, de verdade. Olhar uns para os outros com mais afeto, com mais compaixão. Senão o seu futuro será sombrio e vazio.

Eu temo a velhice, temo saber que serei dependente da bondade dos que estiver à minha volta, de cuidar de mim, de olhar para mim com empatia. E o máximo que posso fazer, é torcer para que no meu caminho estas pessoas me encontrem.