"MESMO QUE O MUNDO DESABE NUM TEMPO FEIO ... SEI O QUE AS ASAS DO PONCHO TRAZEM POR DENTRO"

“Mesmo que o Mundo Desabe num Tempo Feio ... Sei o que as Asas do Poncho Trazem por dentro.”

(Vento Lusitano)

As águas não param de subir. A resiliência é o desafio. O Brasil demonstra estar unido em todos os sentidos, é uma assertiva, somos todos irmãos. Não há tempestade que dure para sempre, tenhamos a certeza o céu do Sul voltará a ser azul.

O título “Mesmo que o mundo desabe num tempo feio ... sei o que as asas do poncho trazem por dentro” é frase final extraída de um chamamé com o nome “BATENDO ÁGUA” que tem os versos de Gujo Teixeira e a melodia de Luiz Marenco. São dois monstros sagrados do nativismo. A música ela carrega sentidos bem especiais com muitas frases fortes e um eito de metáfora bem campeira! Inclusive, hoje, Leandro Carnal, reportou-se a essa música. Pesquisando encontrei a letra destrinchada, vejamos o que se canta em tempo de “BATENDO ÁGUA”:

Meu poncho emponcha lonjuras batendo água

E as águas que eu trago nele eram pra mim.

Asas de noite em meus ombros, sobrando casa…

Longe “das casa” ombreada a barro e capim.

Emponchar lonjuras seria uma metáfora pra carregar, percorrer as distâncias, a estrada, a experiência. Ou seja toda a vez que o gaúcho pega a estrada ele fica mais experiente.

Asas de noite é o próprio poncho. Pois ele é preto e aí quando tu abre os braços, a gente se diz, abre as asas do poncho.

Casa ombreada a barro e capim é uma referência aos ranchos barreados. Aqueles que são feitos de barro misturado com capim. Ombreada é porque pra erguer o rancho, se carrega sobre o ombro a matéria prima da casa.

Faz tempo que eu não emalo meu poncho inteiro,

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril…

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino, pechando o frio!

Nesses primeiros versos o campeiro fala que está chovendo há tempos porque ele não tem tempo pra emalar o poncho e nem abrir as asas do poncho ao sol pra secar.

Emalar o poncho é enrolar ele e guardar nos sob o lombo do cavalo. Bancar o tino é aceitar o desafio, o destino, de ser campeiro.

Zaino é o pelo do cavalo. Marrom meio escuro, lembrando pinhão. Pechando o frio é encarando o inverno, a chuva, o mau tempo.

Troca um compasso de orelha a cada pisada,

No mesmo tranco da várzea que se encharcou…

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

“Guentaram” as chuvas de agosto que Deus mandou.

Trocar o compasso da orelha é um movimento que o cavalo faz com a orelha enquanto está cruzando a várzea já alagada. O barulho das pisadas na água faz o cavalo prestar atenção ao seu redor.

As abas sombreras são as abas do chapéu, que já aguentaram outros invernos chuvosos.

Meu zaino garrou da noite o céu escuro

E tudo o que a noite escuta é seu clarim.

De patas batendo n’água depois da várzea…

Freio e rosetas de esporas no mesmo “trim”.

Cai a noite e o campeiro ainda está no tempo. Noite escura, como o pelo do cavalo. No meio da pampa a única coisa que se ouve são os sons do cavalo na água e do metal da barbela com o freio e o trim das rosetas das esporas nas botas do gaúcho.

Falta distância de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o céu deságua,

Quem tem um rumo de rancho pras quatro patas,

Bota seu mundo na estrada batendo água!

Esse verso representa que o gaúcho tem sempre disposição pra enfrentar as distâncias com muita vontade e determinação. Sobrando cavalo, ou seja… ainda com vigor.

O rumo do rancho pras quatro patas é o seu lar, sua querência. Onde está sua amada e a família. Então quando se tem esse rumo não há o que segure.

Porque se a estrada me cobra, pago seu preço

E desabrigo o caminho pra o meu sustento.

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio…

Sei o que as asas do poncho trazem por dentro.

E esse último verso é uma síntese do povo gaúcho. Se a lida, o trabalho, os desafios cobram da gente, pagamos o preço. Fazendo o que for preciso pra garantir o sustento.

Mesmo que debaixo de chuva, frio… com o mundo desabando lá fora, sempre se sabe, se conhece quem está por dentro do poncho. O gaúcho se conhece e se garante.

Com esse texto presto minha homenagem ao sofrido povo gaúcho. O Brasil demonstra que não é só futebol. O Brasil é SOLIDARIEDADE. Que neste dia, 13 de Maio, Nossa Senhora de Fátima, abençoe a todos os brasileiros.

Vento Lusitano
Enviado por Vento Lusitano em 13/05/2024
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