Não há ninguém lá fora

 

“O que é mais assustador? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a ideia de que, em todo este imenso universo, nós estamos sozinhos?” – Carl Sagan

 

 

Depois de tanto tempo tentando buscar vida lá fora, fomos nós, terráqueos, que espalhamos a vida aqui da Terra para os outros planetas.

 

Parece que o espaço é hostil demais para a vida inteligente.

 

Das inúmeras sondas que enviamos ao espaço profundo, dos robôs enviados a outros planetas, dos sinais de rádio e de luz decodificados, nada. Nenhuma resposta esse tempo todo.

 

Os avistamentos de OVNIS, UFOS, entre outros eram apenas montagens e imagens distorcidas. Pessoas desesperadas por atenção ou induzidas pelo engano ao presenciar fenômenos atmosféricos raros ou mesmo foram testemunhas de exercícios militares secretos. Afinal, os Ets foram apenas mais um evento psicológico coletivo, assim como fadas, gnomos, anjos, demônios, deuses e outras mitologias no decorrer da história.

 

Os estranhos sinais de rádios que recebíamos nos davam um ânimo no início, mas agora sabemos que são apenas tipos específicos de estrelas a pulsar em certos intervalos de tempo.

 

Depois de tantas desilusões, lançamo-nos para Lua e Marte. As motivações eram as mais diversas: nações queriam demonstrar poder e acessar raros minérios, empresas e corporações buscavam explorar comercialmente o espaço. Alguns visionários temiam que a humanidade se extinguisse presa no planeta Terra. Assim, seria mais fácil de termos um futuro brilhante. Afinal, tanto uma guerra mundial quanto um asteroide poderiam pôr fim a nossa espécie sem aviso prévio caso estivéssemos presos em nosso planeta natal. Mas ocupando o nosso lugar no espaço, nossa chance de sobreviver seria maior.

 

O problema foi exatamente esse. Como o custo para se colonizar um planeta é extremamente alto, nações e empresas se juntaram em blocos para realizar a empreitada. E, ao estabelecermos bases fixas nos astros mais próximos, as tensões geopolíticas apenas se tornaram mais complexas e com maiores agravantes, de modo que a última grande guerra irrompeu justamente quando achávamos que iríamos dominar as estrelas.

 

Com a eclosão da guerra, os recursos necessários para a manutenção das bases foram cortados, assim como as escassas frotas espaciais mercantis que foram os primeiros alvos nesse conflito.

 

Perdemos por completo o contato com a Terra. Dependíamos dela para tudo, desde alimentação até peças de reposição para máquinas.

 

Embora tenhamos montado bases fora do nosso planeta natal, não conseguimos estabelecer uma população mínima viável. Era algo de doer o coração: devido à diferença de gravidade e da radiação solar, os fetos nasciam com as mais diversas deformidades, muitas mães morriam durante o parto, os recém-nascidos não duravam muito tempo devido às infecções virais e bacterianas mutantes que surgiam. Sem contar que, com a baixa de gravidade, os poucos que sobreviviam desenvolviam más formações nos membros locomotores. Lembro-me que tivemos que desenvolver exoesqueletos mecânicos às pressas e adaptá-los aos pequenos.

 

Nossa geração era considerada a que salvaria a nossa espécie, que nos espalharíamos pelas estrelas, éramos conhecidos como “geração Titan”, responsável por levar o mundo nas costas. Nós fomos a primeira geração melhorada geneticamente. Mesmo assim, sinto que falhamos na nossa missão. A nossa suposta imortalidade nos tornou mais mesquinhos e egoístas. Ao termos a consciência de que estávamos sós nesse universo, esse “poder” nos subiu à cabeça, consideramo-nos deuses de nós mesmo, presos apenas às consequências de nossa ações.

 

Sentindo essa extrema solidão no espaço e vendo a nossa espécie declinar rapidamente, lembrei-me de uma possível resposta para o Paradoxo de Fermi, que é a hipótese do “Grande Filtro”. Essa teoria sugere que há algum obstáculo ou evento catastrófico ao longo do desenvolvimento de uma civilização que impede sua sobrevivência ou expansão. Seria esse o nosso?

 

Sinceramente, não sei se a nossa espécie irá sobreviver, ou se dela surgirão outras humanidades morfologicamente distintas. Mas aqui não há ninguém para pedir ajuda, só temos uns aos outros.

 

Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 03/05/2024
Reeditado em 03/05/2024
Código do texto: T8055418
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