A roda do Rato

Ontem, um homem de branco com algo pendurado no pescoço perguntou quem eu era. Respondi: "Não tenho mais certeza de nada. Não existe mais vontade em mim. Nada me alegra, me dá prazer. Nada me faz levantar dessa cama, mesmo aparentemente saudável."

O médico: "As visitas que recebes não lhe trazem boas recordações?" - indagou o médico. Só recebo familiares que nunca me visitaram antes. Eles parecem preocupados comigo, isso me dá medo. Alguns deles até choraram. Tudo aqui é estranho.

"Médico: está tomando os remédios nos horários certos?" - "Não lembro. Passo a maior parte do tempo dormindo." O médico fez mais algumas perguntas e saiu da sala.

O homem chorou sem entender o motivo do seu choro. Uma mulher também de branco entrou no quarto com um sorriso largo no rosto. Ele falou: "Não há motivos para risos" e continuou chorando enquanto a jovem senhora lhe estendia a mão, oferecendo um comprimido e um copo descartável com água.

"Tenho boas notícias", disse ela: "amanhã estará de alta. Prepare-se, seus familiares vêm lhe buscar. A saída está agendada para as 8 horas da manhã." E assim aconteceu.

Chegando em casa, sua esposa o abraçou e disse em seu ouvido: "De hoje em diante tudo vai ser diferente", mas ele dizia em seu íntimo: "Que futuro? Onde está a fé? O fim é minha única esperança." Sua mente estava nublada. Não conseguia processar informações. Se trancou no quarto e fechou a porta. Naquele momento, sua única companhia era a sua cama e a escuridão do quarto. Uma fraqueza física e mental dominava o seu ser. Sentia uma percepção negativa de si mesmo, sentimentos de inutilidade, culpa excessiva e crítica constante em relação às próprias ações e realizações.

Passou algumas horas e de repente um barulho na fechadura. Era sua esposa usando uma chave reserva para abrir a porta. Ascendeu a luz. Ele, como um gato assustado, se escondeu embaixo da coberta. Várias pessoas vieram lhe ver, mas ele inerte, escondido pelo lençol, não reagia a nenhuma pergunta ou palavras de otimismo.

Parou de tomar os remédios, se alimentava muito pouco. O prato voltava praticamente com a mesma quantidade de comida que havia sido colocado. Uma noite, em meio ao turbilhão de seus pensamentos, ele mergulhou em um sono profundo. Lá, nos confins de sua mente, ele encontrou-se diante de uma figura divina, cujo brilho transcendia qualquer descrição. Era uma presença que emanava uma aura de serenidade e compaixão. Ele perguntou: "Que és tu?" "Eu sou aquele que testemunha tua dor, aquele que compartilha teu fardo. Eu sou aquele que chama por ti, mesmo nas sombras mais densas da alma. Eu sou a busca incessante pela verdade, a luz que nunca se extingue." "Venha a mim." "Porque em tua escuridão reside uma centelha divina, uma chama que clama por redenção", respondeu a figura com uma voz que ecoava como o murmúrio de um rio antigo. "Tu és uma manifestação da jornada humana, um peregrino em busca de significado em meio ao caos. Tu és o reflexo da busca eterna pela verdade e pela beleza." Ele sentiu as sombras que o aprisionavam se dissiparem, deixando para trás uma sensação de paz e clareza que ele nunca havia conhecido. Quando sua esposa e filhos acordaram, ele estava banhado, bem vestido, com um belo sorriso no rosto. Todos ficaram espantados e perguntaram em coro o que aconteceu. Ele disse: "Quando tudo falha, a fé esfria, a esperança não quer mais esperar, a vontade não deseja mais a própria vida e escurece, só restará a busca de algo que está acima do cristianismo institucionalizado, do ateísmo militante ou existencial, conselhos filosóficos ou psicológicos. E esse algo está sempre muito próximo de cada um de nós. Mas o ser humano está perdido, buscando sempre o que lhe dá prazer momentâneo. E, assim agindo, cai na roda do hamster e fica preso, sem perceber, ao seu próprio prazer. Mas quando esse prazer efêmero é tirado, nós entramos em uma abstinência das falsas alegrias e desejos passageiros. Não encontrando essa ilusão de vícios banais, caímos em uma profunda depressão de corpo e espírito. E, nesse momento, o fim de nossa existência humana é o que buscamos. Mas, apenas olharmos para o nosso lado, lá estará a verdadeira força que emana do verdadeiro amor. Se conseguirmos suportar essa luz que emana do infinito, toda escuridão se dissipará e toda nossa vida será restaurada."

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 14/05/2024
Reeditado em 17/05/2024
Código do texto: T8063050
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.