Ide! - Mt7

Há uma confusão desnecessária ou irresponsável na interpretação das ordens missionárias aos discípulos enviados por Jesus.

Confundem-se os momentos, as ações, as prerrogativas, os resultados, as garantias, os grupos envolvidos.

Não se poderia esperar, nem pela lógica nem pela Escritura, que ordens dadas aos discípulos vivendo debaixo da lei e esperando seu reino messiânico, fossem as mesmas depois da recusa do Messias e do seu reino por aqueles que se assentavam sobre a cadeira de Moisés.

Vamos ser breves neste comentário, pois queremos apenas preparar o terreno do que ainda vamos analisar pela frente. Aconselho que faça o mesmo que Maria – ‘guarde todas estas coisas, conferindo-as em seu coração’ (Lc 2.19).

A primeira ordem missionária trata 1) de poder concedido para sinais específicos; 2) de um grupo alvo de ação com a exclusão de outro; e 3) de uma mensagem específica.

“E, chamando os seus doze discípulos, 1) deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal... e lhes ordenou, dizendo: 2) Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai, dizendo: 3) É chegado o reino dos céus” (Mt 10.1-5).

Como dissemos acima, o Messias foi rejeitado e o reino prometido a Israel foi prorrogado. Então uma nova comissão é ordenada após Sua ressurreição ao mesmo grupo anterior chamado. E vamos congregar em única passagem as 3 ordens contidas nos 3 primeiros Evangelhos (Mt 28.18-20; Mc 16.15-18; Lc 24.46-49).

“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra... Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém... Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo... Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão... E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.

São nítidas as diferenças entre os dois ordenamentos – o primeiro garante poder para curas e expulsão de demônios, o segundo acrescenta o sinal de novas línguas e proteção contra serpentes e venenos (se pudermos entender estas proteções de forma unicamente literal); aquele era exclusivo aos judeus, este é estendido ao mundo todo; o anterior proclamava a chegada do reino prometido a Israel, o segundo um novo evangelho que garantia perdão de pecados e salvação eterna ao novo corpo espiritual que se formaria; no primeiro, o próprio Mestre os capacitou, no segundo a capacitação vinha do alto, promessa do próprio Pai.

E na verdade, muitas outras vantagens foram adicionadas ao grupo que faria parte do novo corpo de Cristo.

O que delimitava todas estas diferenças? – o Filho em carne de um lado, e o ressurreto de outro.

Paulo, embora nunca tenha visto Jesus em carne, compreendia bem os resultados práticos desta admirável diferença.

“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5.16-17).

Não vamos prosseguir o assunto, pois espero continuá-lo através das cartas de Paulo.

Admirada então a face que espelha a realeza de Jesus neste exame de Mateus, passamos ao evangelho de Marcos, refletindo sua segunda face – o servo humilde.

Obrigado por me acompanhar até aqui!