Os ônibus novamente

Hoje estourou perto de mim aquela briga clássica: a de duas pessoas socadas dentro do ônibus que disputam o mesmo espaço. O homem diz: "Para de empurrar, porra. Tenho cara de apoio agora?". A mulher responde: "Tu não tá vendo como tá lotado? Se quer espaço vai de Uber". Isso foi o mais suave que disseram, pois em seguida começou uma série de imprecações e palavrões.

Os dois estão certos.

O homem está certo em querer viajar com o mínimo de decência. É o desejo de que o princípio da dignidade da pessoa humana que está na Constituição Federal tenha alguma serventia no ônibus.

A mulher está certa em dizer que não há como arrumar espaço. Os ônibus já têm cada vez menos bancos para que mais pessoas sejam socadas e experimentem uma prodigiosa orgia em local público.

Mas isso só é um problema para eles e para quem mais anda de ônibus. Não há um único político, de esquerda ou de direita, que perca o sono com o "problema dos ônibus", e isso porque para eles isso não é um problema. Um problema é algo que ainda pode ser resolvido. A questão dos ônibus, dizem, não tem solução alguma.

Seria então uma fatalidade da vida, tal qual a morte. Lamentável, sem dúvida, mas que se há de fazer? Meus pêsames.

Pense no seu mais profundo sonho político, no desejo de que a sua ideologia favorita e seu político de estimação triunfe sobre todos os adversários: ainda essa será uma realidade de ônibus lotados.

Aqui ó para todos que pedem meu voto.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 16/05/2024
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