As poesias de Casimiro de Abreu

 

AS POESIAS DE CASIMIRO DE ABREU

Miguel Carqueija

 

Resenha da coletânea “Poesias completas”, de Casimiro de Abreu. Zelio Valverde Livreiro-Editor, Rio de Janeiro, sem data. Inclui um estudo biográfico de Gastão Pereira da Silva.

 

Este exemplar por mim achado em saldo veio com uma capa dura e nesta a marca da Livraria Francisco Alves; mas esta encadernação deve ter sido feita depois por quem adquiriu a obra. É curioso como antigamente era mais comum aparecer o nome do editor, aliás “Livreiro-Editor”, como razão social mesmo.

Tem muita coisa escrita a caneta. Numa das páginas de rosto, esta dedicatória:

“À Celia. Delicia-te com as “Primaveras” nas horas de lazer. Inah, 28/8/941.”

A própria Celia, na contra-capa da frente, assinou “Celia Machado”, deu à obre o nº 119 e anotou: “Em 1941”.

O autor do estudo introdutório faz uma comparação com outros poetas célebres, como Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Castro Alves, e observa:

“Seu estro (de Casimiro), cristalino, sincero, simples como a própria linguagem do coração, pura a sua forma, como as águas ainda não contaminadas das nascentes, todos, absolutamente todos, o entenderam, tal a singeleza com que é engramado na mais mediana das inteligências.”

O livro aqui examinado inclui: “Canções do exílio” e “Camões e o Jaú” (1854-1857), “Brasilianas” e “Cânticos” (1857-1858), “As Primaveras” (1859) e duas páginas em prosa.

Casimiro viveu muito pouco: de 4/1/1839 a 18/10/1860: apenas 21 anos! Aliás muitos literatos brasileiros dos séculos passados morreram muito jovens, em parte devido à vida boêmia, à tuberculose.

Os versos de Casimiro são em geral bem descontraídos e joviais, às vezes tristes, fruto de um coração romântico e livre. Vejam este trecho de “Primaveras”:

 

Na primavera tudo é riso e festa,

Brotam aromas do vergel florido,

E o ramo verde de manhã colhido

Enfeita a fronte de aldeã modesta.

 

Nessas poesias castiças deparamos com frequência termos hoje em desuso como vergel (jardim ou pomar).

Porém, Casimiro era um rapaz enfermo e por certo sabia que iria morrer em breve. Eis como ele começa “No leito”:

 

Eu sonho; — o corpo padece

E minh’alma se estremece

Ouvindo o dobrar dum sino!

Quem sabe? — a vida fenece

Como a lâmpada no templo

Ou como a nota dum hino!

 

Segundo o prefaciador Gastão Pereira da Silva, o pai de Casimiro de Abreu não o queria poeta, não queria que vivesse lendo, por isso o mandou estudar em Portugal. Isso determinou a sua morte prematura:

“Casimiro insiste. Vem-lhe o castigo. Vai como que para o desterro. Longe da família. Longe da pátria.

Com 16 anos, apenas, parte no vapor “Olinda” para Portugal. Sozinho (...) Adoece. A tuberculose desperta. (...)

Quatro anos depois, doente, já muito doente, regressa ao Brasil.”

Com certeza, uma triste história a deste nosso poeta exemplar.

 

Rio de Janeiro, 24 de abril/3 de maio de 2024.