A madame e o vagabundo

Todos os dias a ela descia do quinto andar para levar sua cachorra para passear. Era um ritual bonito de ser observado. Sempre bem cuidada, pelo limpo, laço de fita na cabeça, coleira impecável. As duas pareciam ter saído de um outro mundo, dada a afeição que demostravam uma pela a outra. Zé do Ó até pensou que poderia fazer um carinho na cachorra, mas devido a insegurança, recuou a tempo. Passados alguns dias a madame desfilava sozinha pelos arredores do prédio sem muita ênfase. Se olhar, antes vivo e vibrante, agora era uma tristeza de fazer inveja em santo de pau oco. Zé do Ó, que estava sempre por ali, um aposentado e meio matuto, interessado na madame teve a ousadia de perguntar: __ Bom dia, e sua cachorrinha linda, onde está? No que ela disse com a resposta na ponta da língua: __ Morreu. __ Como é isso? Disse. Foi uma morte terrível, nem gosto de lembrar. Zé do Ó, entusiasmado, arriscou: __ E se eu morrer, você vai chorar? No que ela respondeu: __ Claro que não, a Valentina tinha pedigree.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 14/05/2024
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