Choram os homens fortes
É a Arte sem Arte...
essa que só vem desconstruir..
Chega de cima, em torrentes
alaga embaixo, sem medidas,
desmancha tudo que foi edificado
leva pessoas nas enxurradas
e mal se notam as lágrimas
que se misturando às águas
e à lama, ali se retêm, ignoradas...
Perto de tudo isso os poemas
são brincadeiras de criança...
ridículas e tolas brincadeiras...
O que mais nos atinge agora
é a inutilidade das palavras...
Choram os homens fortes
choram os velhos desvalidos,
choram as mães, crianças...
expõem-se todas as feridas
a céu aberto...
E o animais, amigos dos homens,
sofrem o seu mesmo destino
E quando resgatados,
todos se assemelham...
pequenos seres, assustados...
Por uma estranha ironia
diante das imagens desoladoras,
lembrei-me de um ritual , com seu início,
meio e final...surpreendentes...
Mandalas, pacientemente construídas
depois, sistematicamente destruídas...
e todo seu conteúdo, religiosamente
enfrascado...devolvido à natureza.
Obras-primas, de exuberante beleza
que em poucos instantes de transformam
em detritos...intencionais...em poeira
colorida...
Como, então, evitar o pensamento
de que é assim a vida...e a efemeridade,
um fato...?
Os homens, suas orações, os seus santos,
as suas divindades...
reconstruirão novas "mandalas" e nunca
se sabe, realmente, como o farão...
como será essa reconstrução...
Mas ela se fará...e como alguém já disse um dia
certamente, não mais veremos na Tv
tudo que depois aconteceu...
àquele homem forte, que ali chorou,
em agonia...