VIDA APARENTE

Nascer em uma família pobre e carente de tudo é o mesmo que nascer para sentir muito medo e em última análise, para não viver. E como isso não significa o desejo de não viver, continua como tantos, com muito medo de morrer, parecendo até um paradoxo existencial.

De medo da vida surge de dentro de si!

E o assustado homem que sai,

é um pai.

No país que nasceu.

Medo!

E mais medo.

E grita em segredo:

Estou com muito medo!

Se está vivo, não sabe.

Não sabe ser vivo,

porque nunca viveu.

Nasceu de pai morto, no mesmo país.

E terá muitos filhos,

também pra não viver.

Cemitério de vidas!

de mortos andantes,

de mortas gestantes.

De dor sem medidas.

E fingindo ser o mais forte,

protesta e se culpa por tudo.

Mesmo sem nada e sem vida.

Mas com medo, com muito medo da morte.

Mário Margalho
Enviado por Mário Margalho em 13/04/2024
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