VIDA APARENTE
Nascer em uma família pobre e carente de tudo é o mesmo que nascer para sentir muito medo e em última análise, para não viver. E como isso não significa o desejo de não viver, continua como tantos, com muito medo de morrer, parecendo até um paradoxo existencial.
De medo da vida surge de dentro de si!
E o assustado homem que sai,
é um pai.
No país que nasceu.
Medo!
E mais medo.
E grita em segredo:
Estou com muito medo!
Se está vivo, não sabe.
Não sabe ser vivo,
porque nunca viveu.
Nasceu de pai morto, no mesmo país.
E terá muitos filhos,
também pra não viver.
Cemitério de vidas!
de mortos andantes,
de mortas gestantes.
De dor sem medidas.
E fingindo ser o mais forte,
protesta e se culpa por tudo.
Mesmo sem nada e sem vida.
Mas com medo, com muito medo da morte.