Não leia este poema, nem entre em meu mundo

Eu estava no meu mundo,

Sempre estive no meu mundo,

Estou o tempo inteiro no meu mundo,

Estou sempre no meu mundo,

Nunca saio deste mundo.

Não tentes adentrá-lo,

Não te abrirei porta alguma,

Não ouses outra vez bater-me à porta,

Quando investigas meu olhar,

Quando fitas meus olhos e quer neles achar alguma pista,

Não lhe dou pista alguma!

Morra tu e tuas indagações!

Se me vês com a cara embaralhada

É porque estou montando versos,

Ou porque estou com medo do futuro,

Ou por que estou… ah, que importa a tu o que estou?!

Não te devo explicação.

Faço este poema pra não enlouquecer,

Se queres lê-lo, não tenho nada a ver com isso.

Melhor seria se ninguém o lesse,

Que ele fosse escondido na minha alma,

Como uma folha de rabiscos que cai

No fundo de um precipício.

Fita meus olhos, então,

Vês como estão vazios?

Se tu prestares atenção,

Se focares bem na minha retina,

Verás teu rosto a te encarar de volta,

Verás que enxergo-te com a mesma nitidez que me enxergas,

Mas eu não me importo nem um pouco com o que sentes,

Pouco me importa o que fazes da vida,

Se agora mesmo explodisses em mil pedaços diante de mim,

Depois do breve susto que me ocorresse,

Serias apenas mil pedaços indiferentes.

Não te pergunto como estás porque não me importo,

Se me perguntas como estou, minto que estou bem.

Não me despeço porque minha presença não faz diferença,

Não te saúdo quando chego porque a tua também não me faz.

Sim, sorrisos cotidianos,

Os mesmos protocolos sociais de fingir que está tudo bem.

Ninguém nunca está bem; quando bem, está apenas menos ruim.

Sorrisos amarelos…

A sensação desconcertante de ser humilhado

Com sorrisos amarelos.

Prefiro o meu mundo, mesmo um tanto inanimado.

Prefiro esse marasmo, prefiro a vida do verme,

Sinto a mesma aspiração dos insetos.

Então o que queres com meu mundo?

Fica no teu canto, deixa-me no meu,

Morramos alheios a tudo.