As chaves do reino - Mt5

A um certo momento do ministério de Jesus, dois incidentes sequenciais mudam radicalmente a posição dos escribas e fariseus, de um lado, e dos seus discípulos, de outro. Eram como duas faces da mesma moeda – uma olhando para o alto, outra para baixo.

Escribas e fariseus, os representantes legais da nação até aquele momento, “pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu” (16.1).

A resposta do Senhor foi um castigo – “Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se” (16.4). Ou seja, a morte e ressurreição de Cristo seriam agora as credenciais divinas dos novos trabalhadores da vinha, e não mais a simples observância de leis humanas ou divinas.

Abandonados então em sua arrogância e pecados, Jesus se volta para seus discípulos, em um teste simples de fé, mas com consequências incalculáveis para eles.

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?” (16.13-15).

Pedro foi absolutamente preciso em sua resposta, pois não vinha somente dele – “E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não te revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (16.16-17).

Os primeiros perderam algo, o segundo conquistou algo – a(s) chave(s) do reino dos céus.

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (16.18-19).

Três passos são encadeados pelo Senhor – a confirmação de que aquele Pedro era uma pedra (não a angular, pois esta sempre foi e será somente Cristo); que sobre esta pedra (não a angular), seria edificada (não alicerçada) a Igreja de Cristo como recompensa pela sua adoração; e que a esta pedra seriam dadas a(s) chave(s) que abririam ou fechariam o reino dos céus que, originariamente, estavam nas mãos dos fariseus e escribas como lemos acima.

Como indício de sua nova responsabilidade entre seus irmãos e futuro corpo de Cristo como decorrência, duas ordens dadas por Jesus a ele servem de certificação espiritual – uma antes de sua morte, e outra logo após sua ressurreição.

“Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lucas 22.31-32);

“Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” (João 21.16).

No entanto, o uso oficial destas benditas chaves se daria em dois momentos posteriores – um no dia de Pentecostes visando os judeus, e outro mais tardiamente aos gentios.

Não vamos estender estas conhecidas citações bíblicas neste momento, mas o leitor e leitora devem ponderar:

– Quem abriu a porta da Igreja, na grande festa de Pentecostes, para todos os judeus dispersos em vários países e que se encontravam em Jerusalém? Pedro! (leia Atos 2)

– Quem abriu a porta da Igreja, a um certo gentio Cornélio, e por extensão a todo o mundo restante, através de um simples e maravilhoso sinal de um lençol preso em seus quatro cantos contendo toda espécie de animais impuros? Pedro! (leia Atos 10)

Não estamos falando do fundamento ou alicerce da fé, que é Cristo morto e ressuscitado por nossos pecados; falamos da construção de um templo vivo, através da permissão da entrada de dois grupos diferentes e totalmente opostos entre si, alicerçados na mesma fé. A base da construção sempre será Jesus, o Filho de Deus. Os materiais empregados são as pedras judaicas e gentílicas, unidas pela argamassa do Espírito Santo. O auxiliar de construção, ou ‘capataz’, que abriu as portas aos demais trabalhadores foi – indiscutivelmente – Pedro, o velho Simão. Aliás, um dos significados de capataz, em busca simples pelo google, traz ‘aquele que cuida da rede de pesca e recebe maior porção de peixes na partilha”.

Deixaremos para nosso próximo artigo, como continuação deste importantíssimo assunto, as didracmas exigidas pelos cobradores de impostos.