Módulo 8 

 


 

Alana desceu do carro da mãe arrastando a mochila no chão ainda com muito sono, passou o pente no cabelo  e lavou o rosto somente . Pilar por sua vez numa saia bem curta cor de rosa e botinhas brancas já desceu sorridente acenando para alguém. Acordou bem disposta para fazer a maquiagem para ir à escola . 

Eram irmãs gêmeas idênticas mas uma infinidade de coisas as separavam desde crianças,  era fácil identificar  uma da outra, mesmo sendo uma a cara da outra, eram completamente  o oposto. Desde crianças a mãe percebeu o domínio que Pilar tinha sobre Alana, extrovertida e esperta e estava sempre judiado da irmã.  Alana era  frágil e introvertida sempre dedicada a brincadeiras minuciosas  com cubos e peças de montar. Pilar tinha várias bonecas, roupas coloridas e interesse por maquiagem. Enquanto Allana gostava de jogos e sempre estava descabelada. Era uma dificuldade para a mãe arrumar as duas iguais. Nunca agradava as duas. Mas tinha uma curiosidade entre as irmãs tão diferentes. Uma podia sentir o que a outra sentia. Se Alana tivesse uma crise de asma, Pilar ficaria sufocada. Se Pilar caísse e se ferisse, Alana sentia dor no mesmo lugar. 

E assim foram crescendo. Pilar jogava a irmã na piscina para se afogar  depois de uma discussão sobre um brinquedo e ficou sufocada. A mãe colocava ela de castigo mas Pilar sempre dava um jeito de fazer uma traquinagem com a irmã. 

E na adolescência tudo piorou pois Pilar na sua vaidade fútil se juntava aos amigos da escola para dar muitos trotes em Allana, que não gostava das aulas de educação física, pertencia ao grupo de ciências e usava um enorme óculos de armação escura. 

Numa brincadeira de mal gosto que fizeram com Alana, jogando bexigas com água nela, Pilar sentiu toda a roupa grudada no corpo e os cabelos desalinhados. Tinha um verdadeiro ódio por ter esta ligação com a irmã gêmea.

Pilar passou então a evitar a irmã ao invés de provocá-la. E Allana continuou com sua vida sem muito viço e muito dedicada aos estudos. 

O caso curioso das irmãs Almeida de Castro era pauta para toda a família e amigos dos pais, que tentavam esconder sempre esta particularidade das duas. 

Até que fatalmente Pilar engravidou, sem saber quem era o pai, declarou a mãe que faria um aborto. Já iam entrar na casa dos 18 anos e para desespero de Alana que se preparava para o vestibular em medicina, sabendo o que ia sentir. 

Os pais foram severos com Pilar, sendo muito católicos, obrigaram a filha a ficar com a criança, levando a termo a gravidez. 

Para Alana começou um suplício maior que a negação de Pilar. Enquanto Pilar engordava e xingava a indesejada gravidez , Alana  sentia todos os sintomas, como enjoos e cólicas,  e emagreceu bastante. Parecia que sofria mais que a irmã.  

Foram os meses mais arrastados para aquelas duas irmãs.  Enquanto uma queria viver de forma que não estivesse grávida, saindo à noite , bebendo e usando drogas. A outra padecia o que parecia ser uma gravidez de risco. 

Para a mãe,  presenciar tudo aquilo era doloroso demais e certa vez, deu um tapa no rosto de Pilar para ver se ela acordava para sua situação  e Alana que gemeu em silêncio a dor da mão da mãe. 

A mãe resolveu contar tudo que acontecia com as irmãs Almeida de Castro para o médico que assistia Pilar. Este por sua vez, sabendo que alguns gêmeos tinham estas características, pediu para ver Allana também pois sua vida poderia estar em perigo, já que tinha sintomas tão fortes.  Fez exame de sangue e receitou vitaminas e remédios para o enjoo que não cessava. 

Até que antes de completar os sete meses de gravidez Pilar entrou em trabalho de parto. Sentia contrações  e foi levada ao hospital. Alana ficou em casa pois quase não levantava da cama de tão fraca que estava.

Pilar deu à luz a menino prematuro com um pouco mais de um quilo mas que queria resistir . Pilar não quis ver o filho  só pensava em ter sua vida de volta. 

Alana, por sua vez, milagrosamente sai daquele estado letárgico que vivia. Tomando forças de uma mulher consciente de si e de seus desejos. Pediu à mãe que a levasse ao hospital para ver o sobrinho. E ao conhecê-lo foi tomada por um sentimento maternal que dos seus seios brotaram leite. Não seria preciso recorrer a um banco de leite para amamentar o pequeno, com a ajuda das enfermeiras,  Alana recolhia seu próprio leite para dar ao menino. Todo mundo na maternidade ficou sabendo e ao invés de tratarem como um caso curioso ou bizarro, todos torciam para o bebê que era amamentado pela jovem tia. 

Pilar foi logo para casa para retornar à sua vida, enquanto Alana travou uma batalha de quase dois meses pela vida do sobrinho no hospital. Os avós  estavam maravilhados com o progresso do neto e sentiam-se orgulhosos em ver Alana amamentando. Mesmo que isto não fosse falado entre eles. 

Pilar? Fugiu de casa e ganhou o mundo. Nunca mais deu notícias. Quando a mãe recebia uma carta era sem remetente e os selos sempre de lugares diferentes.

Alana chorava em silêncio,  às vezes, por nada, se lembrava da irmã.  Teve até um sangramento intenso que os médicos não descobriram do que se originou. 

E voltava tarde do consultório em que trabalhava sendo recebido pelo garotinho que muito lhe adorava . 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 02/05/2024
Reeditado em 02/05/2024
Código do texto: T8054604
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