DISCURSO DO MÉTODO, de René Descartes

INTRODUÇÃO

"Discurso do Método", obra seminal do filósofo francês René Descartes, publicada em 1637, representa um marco na história do pensamento ocidental. Neste tratado, Descartes estabelece as bases do método científico moderno, propondo uma abordagem racional e sistemática para a busca do conhecimento. Ao questionar as verdades estabelecidas e enfatizar a importância da dúvida metódica, o filósofo inaugura uma nova era na filosofia, lançando as bases do racionalismo e influenciando profundamente o desenvolvimento da ciência e do pensamento crítico.

Esta Análise de Obra foi idealizada a partir das ideias do filósofo, educador e autor americano Mortimer Adler (1902-2001), conforme expressas em "Como Ler Livros" (1940, 1972), e oferece uma abordagem analítica e sintópica dos níveis de leitura para examinar "DISCURSO DO MÉTODO" de René Descartes.

Ao longo do texto, serão exploradas tanto as contribuições do autor para o campo do desenvolvimento humano quanto os principais conceitos e argumentos relevantes apresentados no livro, mas não substitui a leitura detalhada do livro, porém serve para despertar o leitor para que faça sua própria incursão e útil reflexão.

 

O AUTOR RENÉ DESCARTES:

René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, matemático e cientista francês, considerado o pai da filosofia moderna e um dos principais nomes da revolução científica do século XVII. Nascido em La Haye, na região da Turena, Descartes estudou no Colégio Jesuíta de La Flèche, onde recebeu uma educação tradicional baseada na escolástica aristotélica. No entanto, insatisfeito com o conhecimento da época, decidiu buscar a verdade por meio da razão e da experiência.

Além do "Discurso do Método", Descartes escreveu diversas outras obras de grande importância, como "Meditações Metafísicas" (1641), na qual explora questões relacionadas à existência de Deus e à natureza da mente e do corpo; "Princípios da Filosofia" (1644), um tratado sobre física e metafísica; e "As Paixões da Alma" (1649), um estudo sobre as emoções humanas. Descartes também realizou contribuições significativas para a matemática, sendo responsável pela criação da geometria analítica e pelo desenvolvimento do sistema de coordenadas cartesianas, que leva seu nome.

Ao longo de sua vida, Descartes viajou por diversos países europeus, como Holanda, Alemanha e Suécia, sempre em busca de conhecimento e de um ambiente propício para o desenvolvimento de suas ideias. Sua filosofia, baseada na dúvida metódica e na valorização da razão como fonte de conhecimento, influenciou profundamente o pensamento ocidental, não apenas na filosofia, mas também na ciência, na psicologia e na teoria do conhecimento. Descartes faleceu em Estocolmo, em 1650, aos 53 anos, deixando um legado intelectual que permanece relevante e inspirador até os dias de hoje.

 

VISÃO ANALÍTICA SOBRE A OBRA

O "Discurso do Método" é dividido em seis partes, cada uma abordando aspectos diferentes do método proposto por Descartes e suas implicações filosóficas.

A IDEIA CENTRAL da Primeira Parte é a apresentação das razões que levaram Descartes a questionar o conhecimento estabelecido e a buscar um novo método para alcançar a verdade. O filósofo relata sua insatisfação com a educação tradicional e a necessidade de duvidar de todas as opiniões recebidas, a fim de construir um conhecimento sólido e confiável.

A IDEIA CENTRAL da Segunda Parte é a exposição das quatro regras do método cartesiano: evidência, análise, síntese e enumeração. Descartes propõe que, para alcançar a verdade, é necessário aceitar apenas ideias claras e distintas, dividir os problemas em partes menores, conduzir os pensamentos em ordem e fazer revisões e enumerações completas.

A IDEIA CENTRAL da Terceira Parte é a aplicação do método à metafísica, com a introdução do famoso argumento do "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo). Descartes usa a dúvida metódica para questionar a existência do mundo exterior e do próprio corpo, concluindo que a única certeza é a existência do pensamento e, consequentemente, do ser pensante.

A IDEIA CENTRAL da Quarta Parte é a prova da existência de Deus e a explicação de como o conhecimento da verdade depende dessa existência. Descartes argumenta que a ideia de um ser perfeito e infinito não pode ter origem na mente humana finita, e que Deus, sendo bom e veraz, não permitiria que fôssemos enganados sobre as coisas que percebemos clara e distintamente.

A IDEIA CENTRAL da Quinta Parte é a aplicação do método à física e à explicação da natureza do universo. Descartes propõe uma visão mecanicista do mundo, em que todos os fenômenos podem ser explicados em termos de matéria e movimento, rejeitando as qualidades ocultas e as formas substanciais da física aristotélica.

A IDEIA CENTRAL da Sexta Parte é a apresentação de considerações morais provisórias, que devem guiar a conduta humana enquanto a busca pela verdade ainda está em andamento. Descartes propõe uma moral baseada na moderação, na firmeza de vontade e na aceitação da própria condição, enfatizando a importância de agir de acordo com a razão e de buscar o aperfeiçoamento contínuo.

 

VISÃO SINTÓPICA: COMPARAÇÃO ENTRE "DISCURSO DO MÉTODO" (René Descartes) E "NOVUM ORGANUM" (Francis Bacon)

Uma comparação sintópica entre o "Discurso do Método" de René Descartes e o "Novum Organum" de Francis Bacon revela semelhanças e diferenças significativas entre as abordagens desses dois pensadores em relação à busca pelo conhecimento e à reforma do método científico.

Ambos os filósofos viveram no século XVII e estavam insatisfeitos com o estado do conhecimento em sua época, propondo novos métodos para alcançar a verdade. Descartes e Bacon enfatizaram a importância da experiência e da observação na investigação da natureza, rejeitando a autoridade cega e os silogismos estéreis da escolástica medieval.

No entanto, enquanto Descartes privilegia a razão e a dedução como ferramentas principais para a construção do conhecimento, Bacon destaca o papel da indução e da experimentação. Para Descartes, o método adequado parte de ideias inatas e evidentes, das quais se deduzem outras verdades, ao passo que, para Bacon, o conhecimento deve ser construído gradualmente a partir da observação dos fenômenos particulares, evitando generalizações apressadas.

Outra diferença importante é que Descartes, em sua busca pela certeza, adota uma postura de dúvida radical, questionando todas as crenças e opiniões recebidas até encontrar uma base sólida para o conhecimento. Já Bacon, embora reconheça a necessidade de superar os ídolos e preconceitos que obscurecem a mente humana, não chega a duvidar da própria existência ou da realidade do mundo exterior.

Quanto à aplicação de seus métodos, Descartes se concentra mais em questões metafísicas e na fundamentação do conhecimento, enquanto Bacon se preocupa mais com a reforma da ciência natural e com o domínio da natureza para o benefício da humanidade. O "Discurso do Método" tem um caráter mais filosófico e especulativo, ao passo que o "Novum Organum" apresenta um programa mais concreto e voltado para a prática científica.

Apesar dessas diferenças, ambas as obras representam marcos importantes na história do pensamento ocidental, contribuindo para a superação da escolástica e para o desenvolvimento da ciência moderna. Descartes e Bacon, cada um à sua maneira, lançaram as bases para uma nova forma de investigar a natureza e de construir o conhecimento, influenciando profundamente a filosofia e a ciência nos séculos seguintes.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do "Discurso do Método" de René Descartes nos permite compreender a importância dessa obra seminal para o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico moderno. Ao propor um novo método baseado na razão e na dúvida metódica, Descartes rompeu com a tradição escolástica e abriu caminho para uma forma mais rigorosa e crítica de investigar a realidade.

As ideias centrais apresentadas nas seis partes do "Discurso" revelam a preocupação do filósofo em estabelecer um fundamento sólido para o conhecimento, partindo da certeza do próprio pensamento e da existência de Deus. Sua abordagem racionalista e sua visão mecanicista do universo influenciaram profundamente a ciência e a filosofia nos séculos seguintes, inspirando pensadores como Spinoza, Leibniz e Kant.

A comparação sintópica com o "Novum Organum" de Francis Bacon evidencia as diferentes ênfases e estratégias adotadas por esses dois pioneiros da modernidade em sua busca pela reforma do conhecimento. Enquanto Descartes privilegia a razão e a dedução, Bacon destaca o papel da experiência e da indução. No entanto, ambos compartilham o objetivo de superar as limitações do pensamento tradicional e de estabelecer um novo método para a investigação da natureza.

É importante ressaltar que, apesar de sua inegável importância histórica, o "Discurso do Método" não está isento de críticas e limitações. Alguns filósofos posteriores, como Hume e Nietzsche, questionaram a validade da prova cartesiana da existência de Deus e a confiabilidade do cogito como fundamento do conhecimento. Além disso, a visão dualista de Descartes, que separa radicalmente a mente e o corpo, tem sido objeto de debates e reformulações ao longo da história da filosofia.

No entanto, essas críticas não diminuem a relevância e o impacto do "Discurso do Método" para a cultura ocidental. A obra de Descartes nos convida a exercer a dúvida, a buscar a clareza e a confiar na capacidade da razão humana para alcançar a verdade. Seu legado permanece vivo e inspirador, instigando-nos a questionar, a investigar e a construir um conhecimento cada vez mais sólido e bem fundamentado.

 

REFERÊNCIA

DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Oscar Francisco Alves Junior
Enviado por Oscar Francisco Alves Junior em 13/05/2024
Reeditado em 13/05/2024
Código do texto: T8061966
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